INSPIRAÇÕES DO POETA

27 de out. de 2009

A Pedra





A escada de pedra parecia levar ao céu, com seus degraus intermináveis e cinzas. Meus pensamentos, de canto em canto matavam-se exaustos, como cigarras ilusionistas, e o verão era cínico.
No princípio, não alheia às pequenas flores entornadas no chão, meu coração suspirou e esqueceu, pois era precipitado sentir ou fazer qualquer ruído, os sinais recém-nascidos, ainda vestiam um silêncio único.
À medida que subia o caminho, os espasmos dos ventos criavam idéias e símbolos. Minha mente que antes era ócio, após o sol engordou vontades, materializou desejo em poesia e oprimiu meus seios magriços.
Para sempre, depois daquele dia, eu seria uma anônima, entre a podridão e o luxo, que amamentaria os sonhos dos ingênuos, como eu, quem sabe realizáveis, mas por que nasci pra isso.
Nasci para os manicômios, para os circos, para os miseráveis e os impossíveis, que trazem no sangue o propósito das coisas, não apenas tristes ou felizes, mas humanas, coisas feitas de suor e pedra, como a escada.
Rota dura e definitiva, de quem trabalha arduamente a alma, grande e imperfeita e prefere ingressar na vida, pela entrada de serviço, onde se encontra facilmente humanidade, onde as costelas se acomodam, por amor e por bordoada.
Passo eu, entre as ruínas arquitetônicas dos homens e as árvores frescas. Observo a existência de Deus!
Paralelo a destruição sentida, meus olhos acompanham e compreendem a força teimosa das formigas, que continuam cumprindo seus destinos de labor e de viver.
Sim, a margem de todas as cosmopolitas convicções há um agente que exprime anarquia e reage, naturalmente. O universo! A origem do que cada coisa é e não, do que o homem qualifica na sua embriagues mundana, pois a mão humana não alcança o sol, jamais tece a luz, que ilumina ou cega nem tão pouco, a pedra de cada ser.

8 comentários:

Úrsula Avner disse...

Oi Ira,

belíssimo texto , de uma profundidade lírica tocante , além de apontar aspectos sociais relevantes por meio de uma escrita bem elaborada e sensível. Sua escrita impressiona ! Bj com carinho.

Rosemildo Sales Furtado disse...

Olá amiga! O pior de tudo é que ainda existe muita gente que não acredita na existência nem no poder de DEUS.

Belo texto, bastante consistente e muito bem coordenado. Parabéns!

Beijos,

Furtado.

Carlos Manuel Ribeiro disse...

Parabéns pelo seu belo e profundo texto que, habilmente, aborda questões socias algo polémicas.

Gostei Ira!

Abraço deste lado do atlântico,
CR/de

Tato Skin disse...

Relevante e profundo, mas sempre a beira do abismo.
Seus textos sempre a flor da pele... adoro isso!
Bj meu

CARLA FABIANE... disse...

AMIGA...

Não são as coisas bonitas que marcam nossas vidas, mas sim as pessoas que tem o dom de
jamais serem esquecidas!
você!

Beijos de luz...

Paulo Tamburro disse...

IRA BUSCACIO, que texto lindíssimo minha amiga.

Absolutamente correto, impecável .

É como se você fosse uma stronauta e tivesse feito um cáculo perfeito para reentrada do ônibus espacial, na atmosfera da terra e não tivesse chamuscado, quase nada a fuselagem do aparelho, pois o atrito foi mínimo.

-"...e o verão era cínico", que coisa bonita!


-"os sinais recém-nascidos, ainda vestiam um silêncio único", absolutamente profisional.

E pensar que nesta grande e conservadora mídia brasileira tem tanta gente incompetente escrevendo abobrinhas insuportáveis, diariamente!

IRA BUSCACIO, estou com inveja deste seu texto.

Quer que minta?

Um grande abraço, minha generosa, constante e especialíssima amiga virtual que me honra com sua presença lá nos blogs.

Luis Ferreira disse...

Um belissimo texto... gostei muito de ler e de o sentir. Um caudal de semtimentos, onde as palavras... pequenas gotas, dão força à expressão da autora.

Parabens
Luis

Anônimo disse...

"Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, a humanidade vai entender que dinheiro não se come "