INSPIRAÇÕES DO POETA

29 de dez. de 2011

O homem das borboletas azuis




Quis Deus, por capricho ou perversidade,
Que tua face fosse espelho de Narciso.
De teus dedos, a sentença,
Que jorrassem o néctar das almas,
E que por fim, apenas tu, impossível.
Assim suspirou o barro, como quem tem pulmões e êxtases,
Boca assombrada,
Língua de noivo e de bárbaro,
E todos os poetas ressuscitaram.
- Com diamantes e punhais nos olhos -
As cigarras acenderam seus cantos incansáveis,
Até a morte, até a vida.
Belo, belo!
Nascia para meus pecados, o homem do alfabeto azul,
Beleza e poesia,
Letras despidas e senhoras de si, no peito e nos punhos,
Uma nau coberta de névoas.
Eis o destino do intocável, quase imortal.
Do absurdo, porém esplendoroso.
Mas todos os poetas não deveriam ser cegos,
Como Homero e Milton,
Ou quando não, dotados de esquisitices físicas.
Rostos arrematados,
De uma feiúra quase frágil?
Bem sei que, uma alma agarrando a tempestade,
O amargo inundando,
É que faz brotar o verso mais imperfeito e bonito.
Será o sangue a verdade do corte?
Agora tu, filho do primeiro Deus,
Fruto das terras que não pisei,
Tu brilhas nas fendas das sombras,
Com perfil de música épica,
Dono das cores do fogo.
E tens negros cabelos sobre os olhos de orvalho,
Olhos que me esquecem,
Olhos que me lembram,
E avanças com a desobediência das crianças
Os mares inavegáveis.
Tu, que tens ensinado meu nome,
Como a noite aos que sonham.
Que tens luvas e aroma doce,
Nas visitas as casas mais tristes,
Jamais saberá o quanto multiplicas em mim,
Tua graça, raça, palavras,
Meu ambíguo poeta,
Colecionador de borboletas azuis.

9 comentários:

Dilmar Gomes disse...

Lindo teu poema, Amiga Ira, aliás, como sempre.
Um abração. Tenhas um lindo e maravilhoso 2012.

Anônimo disse...

Minha poeta
nascida dos cantos das cigarras
que tece metáforas azuis
esquecestes somente
de poetar
da formiguinha interior
que tece com um trabalho incansável
um poema desse
lindo como uma borboleta
de outras eras
mas o poema já diz
superaste muitas metamorfoses
és uma poeta que escutas
a canção dos grilos
e das cigarras
e tece estes versos em hierógrifos
do diálogo interior dos teus poetas
como o mundo. E com os enigmas e mistérios da vida por dentro e afora. Beijos poéticos poeta.

Luiz Alfredo - poeta

A.S. disse...

Teu poema tem a graciosidade de um voo de borboleta!...

Que seu ano seja intenso, leve, e maravilhoso!


Beijos!
AL

Anônimo disse...

Um belo poema, reflexivo e prenhe de esperancas. Feliz 2012!

AC disse...

Goste de a ver assim, Ira, a dar atenção à beleza do voo das borboletas azuis, irrompendo por nuvens escabrosas e domando-as em amena bruma, como que descobrindo um novo olhar e aquietando os dias...

Um 2012 tecido em tons esmeralda!

Beijo :)

Ana Luiza Cabral disse...

Suas belas palavras traçada sobre um belo poema, como sempre. Um feliz 2012 querida.

Ah, domingo tem post de ano novo lá no blog, tá? Um abraço, Ana.

Paulinha Barreto disse...

Te desejo um ano novo repleto de alegria, de realizações. Feliz 2012

Jorge Pimenta disse...

o arrepio na pele trepou-me pelos braços tomando de espanto a boca que, no emaranhado da teia, susteve qualquer palavra. sobram as interjeições e tanto do corpo aceso! brilhante este túnel de relações subtis que desembocam nesse poeta-colecionador de borboletas azuis.
ira, querida amiga, se há poesia que se renova e nos renova neste tecido verbal a que chamamos blogosfera, a tua é-o seguramente. ler-te é ler-nos na justa medida de cada um dos nossos precipícios, sonhos e anseios. e o corpo agita-se e agita-se e agita-se...
beijo grande, minha imensa amiga-poeta!

Suzana Guimarães disse...

"Tu, que tens ensinado meu nome".

Há algo de muito belo no aprender. Ensinar é divino, aprender, é melhor.

Beijos.

Suzana/LILY