INSPIRAÇÕES DO POETA

19 de set. de 2007

O Atraso

A noite cai sobre a cabeça insana do marido.
Avante homem ofendido!
Deflagra a tortura da traição, o monstro faminto da perversão.
A imagem da amada, desvairada e bela copulando feito cadela nos braços do amante, o transporta ao inferno de Dante.
Amarga a suspeita e espreita na madrugada a vítima atrasada.
Envenena-se com a verdade absoluta, como quem bebe um cálice de cicuta.
Estrebucha, cospe, repuxa!
O relógio marca as horas em que ela não vem. Em que ele, a faz refém de sua mente perturbada. Em que não a mata violentada.
Vaca descarada!
Como ousa sair de casa essa mulher de pecados, de corpo obsceno, de rosto pintado, de olhar divulgado.
Como ousa ganhar as ruas tirando o fôlego dos passantes, excitando os farsantes. Dando larga a volúpia, disseminando a luxúria por todos os poros, e línguas, e paus.
Maldita despudorada!
Por onde anda essas pernas que não enroscadas nas minhas?
Dou mais cinco minutinhos pra essa mulherzinha ou não me chamo macho.
Sento-lhe a mão na cara, castro o seu caso, mato, escracho.
Corto seu corpo em pedaços. Boto na mala e despacho.
Faço vingança com as próprias mãos, depois lavo o sangue do chão.
Fim da espera!
Volta ao lar, ela. Cansada da vida, de trabalhar sem guarida.
Arrasta os sapatos encharcados da chuva e aperta sua vulva na iminência do mijo.
Rijo é o ventre da pobre mulher inocente.
Entregue ao acaso, ao atraso imprudente.
Não pressente o risco, a loucura e sobre tudo, o perigo proeminente.
Adentra o quarto, quem sabe, a procura do amado, do cúmplice, do enamorado.
Por destino ou ironia encontra a morte. Ele a asfixia!
Nas mãos do psicopata amoral o desterro, o suspiro final.
- Mulher errada e infame! Diz o homem em seu vexame.
Ao lado do corpo defunto, ele grita o seu ódio profundo:
Eu te perdôo pela traição, mas pelo atraso, NÃO!

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