INSPIRAÇÕES DO POETA

14 de ago. de 2009

Deslumbramento


O sol desperta quando o dia quer nascer
E provoca no alaranjado do céu, pequenas nervuras róseas.
Amo essa manhã risonha por ser ela, única e possível,
Como são possíveis os olhares que filtro dos passantes.
Alguns, melancolicamente suicidas.
Outros, rubros, como um rendez-vous.
Uns embriagados de dúvidas pagãs.
E mais, pederastas, promotores, domésticas,
Balconistas, mendigos, bailarinas...
Todos repletos de humanidade e ânsia.
Sinto-me cúmplice dessa civilização de medo inato.
Sou febre de marujo cortando-lhe a carne,
No absoluto vazio oceânico.
Sou canto de ave na arte do acasalamento.
O fluxo da vida, como água corrente!
Sou subitamente,
O inferno de Dante a povoar sonhos não dormidos.
O litoral me acompanha nessa caminhada insólita,
Como quem observa um flagrante.
Deliberadamente, o mar graceja em tênue espuma.
Forma pequenos furos na areia bege e respira desajeitado.
Gosto desse sorriso mare!
Talvez, pudesse ser permitido enlouquecer a sombra de uma árvore.
Despir-me do traje correto, que tantas vezes me impingiram
E que não me cabe.
Tudo que em mim sobreviveu ainda saboreia: gozo e libertação.
Há flores enfeitando meu braço ... símbolo da alma.
Há um porto no olhar úmido ... símbolo do coração.
Há sempre uma manhã renascida para ser:
A gaivota altiva no silêncio das nuvens,
A vela entregue as mãos do vento marítimo,
A infância descalça correndo sem censura, os sonhos literários.
E por fim, todas as esfinges que assombram minh’alma.

Um comentário:

Úrsula Avner disse...

Oi Ira, lindo e expressivo texto onde a poesia desliza pelas palavras. Bj.