INSPIRAÇÕES DO POETA

9 de nov. de 2010

O Mergulho




Minhas tragédias são íntimas, não as coloco em revistas ou jornais, e mais, não quero piedade plástica dos olhos frívolos, nem palavras fortuitas de magazines. Não gosto do tom de quem submete seus dramas à mendicância de afetos. Dor é como masturbação, um prazer solitário.

Que a dor em mim seja um mergulho, sem escafandro e profundo, com o peso da minha carcaça e de tudo que não entendo, até que possa tocar o fundo e recolher com as mãos os restos de eternidade, só assim devo voltar à superfície, onde continuo garantindo meu enfrentamento.

Há esses dias cansados e tudo que sou é essa interrogação que faz recostar em mim os pensamentos, como a embarcação que chega ao cais após viver um oceano, por alívio encontro mistério no vento que lambe minha cara e sorrio. A resposta esta no incompreensível que nos beija a boca e entra pelas narinas.

Estou viva e vestida com a minha única verdade, que nada sei fora o amor, só a humilde aceitação nos salva da farsa. Que as ilusões me pertençam e que eu as possa entregar aos corvos, nunca, o amor que me move. Esse amor que me inclina a aceitar nossa humanidade empedernida e a me perdoar.

Não exilarei os sonhos por subversão, esses destronarão a realidade. Ah, se essa rainha não fosse tirana! Meu coração andaria livre, ao lado dos homens, de um jeito mais intuitivo e calmo. Mas ainda tenho o sopro das asas sobre meus dedos fugidios que nas texturas brancas fazem amor com as palavras e gozam libertação.

20 comentários:

♪ Sil disse...

Ira, amada do coração da Sil.

Eu disse uma vez pra Suzana, e digo a você.
Seus textos são de uma força t~~ao grande, e tão linda, que CALA fundo na alma da gente.
Eu poderia aqui dizer um monteeeeeee de blá blá blá (Sem nem mesmo entender o que eu mesma estaria dizendo), porque cada um interpreta um texto do seu jeito.
Todos os seus textos, sinto assim:
Literalmenteeeeee EU!
Eu os amo.

Isso pra mim é tudo!!

Um abraço transbordando bem querer.

AC disse...

"...mas ainda tenho o sopro das asas sobre meus dedos fugidios que nas texturas brancas fazem amor com as palavras e gozam libertação."

Ainda bem que ainda tem, Ira, e espero bem que continue a ter por muitos e bons anos. Nós, os leitores, agradecemos.

Beijo :)

Costea disse...

Postado forte e corajoso de linhas de vida.

Jasanf disse...

"...dedos fugidios que nas texturas brancas fazem amor com as palavras e gozam libertação."
Vaguei e viagei em seu texto. Ele mistura ensinamentos, verdades e poeticidade. Ainda bem! Pois vieram no momento exato do saber! Beijos carinhosos.

Antonio José Rodrigues disse...

Ressurreição, ira, a cada dia. Muito filosófica e impactante. Leve a minha alma ao abissal poético, mas, por favor, ensine-a a voltar. Beijos de liberdade

Carolina disse...

Olá Ira! como estas?!
Eu me sinto muito identificada com as suas palavras, eu também sinto vergonha de mostrar a minha tristeza, fraqueza ou dor ... partimos, nós remontado e seguir em frente!
Un abrazo.

Carlos Frei disse...

Belas palavras, parabens!





colisaodepalavras.blogspot.com

Carolina disse...

Cara Ira, te felicito também o prêmio é bem merecido! : D

| A.Luiz.D | disse...

Apesar do isolamento, gostei do sopro das asas, essa libertação não esperava no fim do texto.
Forte superação íntima, verdades que se libertam e aceita as dores..


bjos))

Jorge Pimenta disse...

se há poeta que arranque todas as palavras à mais pequena parcela de terra que respira dentro de si és tu, ira querida. cada palavra é um gemido, cada verso uma súplica, cada poema um grito que percorre o mais fundo das entranhas da boca que o pariu e dos ouvidos que estarrecem por perceberem que a invernia das tundras e a primavera mediterrânica só se fotografam com o verbo.
para ti a poesia é a pele que reverbera a sua inocência e a adaga que a rasga, tresloucada.
um abraço de parabéns, amiga sensível!

Marcos de Sousa disse...

Encantei-me com cada palavra. Cada frase está mais bela que a outra.


Beijos

Marcelo R. Rezende disse...

"Dor é como masturbação, um prazer solitário."

Concordo, dor não pode ser out-door.
E você disse muito bem sobre.


Beijo do filhote!

Suzana Guimarães disse...

"...ainda tenho o sopro das asas sobre meus dedos fugidios que nas texturas brancas fazem amor com as palavras e gozam libertação."

Dom de Deus que nos salva, Ira.

A segunda parte do texto, sobre o mergulho da carcaça, nem tenho palavras, vivo isso, quero isso atualmente. Só assim continuarei bem, poderei seguir em frente.

Beijos!

Leonam Souza disse...

Lindíssima expressão da alma que ama e quer ser feliz. Parabéns, tens o dom de cantar com as palavras e encantar com a imaginação. Já tornei-me teu seguidor e convido-a para visitar o Blog do Leonam - http://leonamsouza.blogspot.com/. Um forte abraço do Leonam

Franck disse...

Que a dor lhe dê asas, seja sua libertação...
Beijos***

Ava disse...

Ira, tens a inspiração toda nas pontas dos dedos!

Esse sentimento de querer refugiar, para curtir a dor, sempre me acompanha. É na dor que mais buscamos a solidão, e assim, mergulhamo num abimo abssol, onde só nos alimentamos da nossa amargura...


Beijos!

:.tossan® disse...

Além do belo rosto uma excelente escritora! Beijo*****

Fulvio Ribeiro disse...

Ira...
Como gosto de te ler.
Grande Abraço.

Iram Matias disse...

Sou a de número 315 de suas seguidoras. Adorei seu blog, por isso fiz minha carteirinha. Tô lá.
Ou melhor, estou aqui contigo.

Beijos

Iram

Rob Novak disse...

Dor é coisa íntima mesmo, e ninguém pode realmente tirá-la de nós.

Ótimo texto! :)

Bjs