INSPIRAÇÕES DO POETA
2 de dez. de 2010
Dezembros
Os dezembros chegam e tantos, sem delicadezas, sim! Vêem aos bandos, feito maritacas ecoando balbúrdias, e reascendendo memórias na árvore de casca grossa, que vento não derruba, pois silencia a passagem do tempo.
Quem vê sua copa fechada rouba-lhe a sombra... Mal sabe as tempestades que alimentaram suas raízes!
Ah! Como gostaria que a vida fosse um jogo de amarelinha e tal qual, lá nos poucos anos, eu pulasse habilmente as riscadas casas proibidas, as pedras, e chegasse ao céu sem cair aos pés das tormentas.
Pularia esse dezembro, com gosto de família e cheiro de riso, que foi sempre tão meu, de trivialidades, mãe e filha dançando ao som dos ciganos, avó transpirando o aroma de talco, irmão controlando a subida da saia, tia na cozinha de azulejos portugueses. Ah, tudo tão essencial e imperceptível! Mas não mais respira, apenas bóia acumulado na lembrança.
Os dezembros! Saltaria sobre seus ossos e cairia direto no caldeirão cáustico da Commedia Dell’Arte, fevereiro, sob a máscara de colombina, os devaneios de amores fugazes. Eu insone, sem traços hereditários, apenas a farsa do presente ileso.
Eu, um samba mudo na página sem pauta, nenhum acorde a desvendar tristezas sobre cordas, do violão sem trastes.
Tolice tentar apagar as luzes, os pisca-piscas, a lareira inventada na noite de verão, os afetos reunidos em volta da mesa, altar de congregação da boa vontade, pois tudo que vivi misturou-se a cada partícula do meu sangue e quando a carne é exigida, por ranhuras ou cicatrizes, esse sangue de tantas alegrias vasa, como indulgência aos dias melancólicos. Derrama-se alegremente triste!
É inútil imaginar que esqueceria de mim, como sempre esqueço os isqueiros baratos de botequim, em qualquer canto, como? Se eles cansam e eu não. Há chama! Os cantos reagiriam ao engodo: Não se esquece o que se tem nos olhos!
E é nos balcões sujos dos botequins, ainda grotesca, que me lembro mais do que fui e sou.
Será preciso passar por mais, todos os dezembros da minha vida, esse dilaceramento das coisas findas, que os sobreviventes, somente eles, não ignoram e adiar ser outra que não eu.
Os castiçais de outrora estarão preenchidos de velas. Na mesa, amêndoas, vinho e saudade. Os dezembros me devoram, mas em janeiro, eu junto os cuspidos pedaços predestinados !
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28 comentários:
Queria que os dezembros fossem todos os dias do ano...
Bjs*
Um texto maravilhosa minha querida!!! amo de coração ler-te, quero que saiba dissi...
Dezembro e as datas comemorativas só servem pra nos destruir. Eu acho. Só lembramos do que não deu certo, de quem não está mais conosco, confraternizamos com quem nos enoja. Dezembros são caóticos, por ser fim, por depois ter o começo, mas a gente sempre esquece dessa parte e corremos feito loucos atrás de comida, bebida, alegria e só achamos tristeza.
Detesto dezembro, detesto as datas comemorativas dele porque nunca tive uma que prestasse.
Mas um dia eu terei. Espero.
Beijo do filhote
prefiro setembros, Ira, esperançosos.
Gostei muito do texto. E quero agradecer os comentários tão sinceros em que você, como aqui em teus textos, se coloca inteira.
recomendarei a leitura.
Filha da mãe!!!! Como vc escreve, mulher!!! BRAVO!!! BRAVO!!!
É teu estilo "força da natureza" que dá esse arrepio, que faz sentir aquele nó na garganta. Entra direto na veia, essa força exuberante e generosa que vc transborda.
Te amo!
Beijokas.
Ira o teu escrever, pulsa, toca os poros da alma... muitas vezes quero saltar calendário, agora com tua crônica poética já tenho um roteiro, belo muito belo.
Um beijo
Carmen Silvia Presotto
Encantador poema prosa.qualidade ímpar. Entendo que a gestão de observadora, deve ser nobre, deslumbrante e encantadora. parabens pelo blog. Mas, eu tenho um muito simplório, e se possivel gostaria de visita-lo, e seguirmos juntos por eles. estarei grato esperando por vc, lá
Abraços.
Por mais que eu pense que não, as suas palavras acabam sempre por me surpreender. Porque são sentidas, vêm lá do fundo, e vêm temperadas com a vertigem dos abismos e o sol de mil desertos. Ah, minha amiga, quanto do nosso andar fica sem defesas perante a candura das coisas simples, dos afectos incondicionais...
beijo :)
Cara acho que isso é um pouco de todos nós, o melhor do dezembro é que ele acaba em 31 dias. É claro que ele tem seus encantos e por muitas vezes me encanta, já fui criança e acreditei em papai noel, mas me roubaram até meu pai de verdade o que dizer do noel.... respiro as coisas findas, como as amendoas, bebo o vinho e me destruo nas saudades. Mas será que dezembro nunca mais voltará a ser doce? Acho lindo, nasceu Jesus, espero que esse ninguém me roube. Mas é o mes da falcidade, percebe como todos são caridosos e gentis, até seu vizinho, o cretino lhe virou a cara o ano inteiro, em dezembro, lhe deseja bom dia!
Faço questão de comemorar cada um dos meus dezembros, na face um largo sorriso e no peito, rasgos de saudades. E lá nave vá...
Mas, logo acaba o mes e começa um novo ano... outro dezembro.... tempo, tempo, tempo, mano velho!
Amo tu de dezembro a dezembro
bj meu
mk
KKKKKKKKKKKKKK....
Olha minha querida Ira!!
Tive que rir, pois ainda estou!!
Eu tenho o hábito de ler o post e depois, ler todos os comentários...
E como a Lua Nova te chamou de filha da mãe...kkk
Vou te chamar então, de filha do Pai!
Danada eu já sabia que tu eras, poeta, idem!
Mas que tem horas que você arrasa, ahhh!!
Isso sim!!
Filha do pai mesmo, você!!
Lindo dezembrar assim, de forma tão gostosa e com tanta afinidade...
Vamos dezembrar então, até as Festas chegarem, com muita Paz e amor em nossos corações...
Uma linda noite pra Ti, minha querida Ira, que amo, adoro, fico de quatro com seus poemas lindos...
Bjs no coração
Marcio RJ
Querida!
Que esse dezembro lhe caia suave, que a paz habite teu peito, que a gratidão da soma de tudo de bom que tens permaneça como uma sentinela a velar teus sentimentos..
Deixo-te meu melhor abraço!!
* Aguardo que me confirmes o recebimento do meu email...
Dezembro é um mês de alegria, melancolia, os sentimentos se misturam ... memórias acumuladas. Engraçado, triste, feliz e nostálgico.
É um mês mágico, enquanto que nos mostra o ritual de passagem, um símbolo da vida que não pára.
Cara Ira, um abraço, você fez uma grande exibição.
E os dezembros, Ira, vão, com o ponteiro pontiagudo do tempo, esculpindo as nossas faces... as nossas almas... Estive ausente: estou enclausurado votando o regimento interno do IFMA. Beijos brisa, da ILha do Amor (São Luís).
maravilhosa descripcao de aqueles Dezembros....que enn cada uno evocan esos sentimentos........... que bela manera de escrever que vc teim amiga suas letras emanan sentimientos que cada letra fala por ela mesma.. tan hermoso que os olhos nao fechan por leerlos... belo
SAludos
otima semana
abracos
O sorteio está sendo feito,
o meu hotmail não está abrindo, onde estão guardados todos os emails do amigo secreto, aguardo voltar ao normal para enviar,
abraço,
Minha amiga, teus posts extrapolam, passam por cima, caem feito chuva, esquentam feito sol.
Ler voce é ter uma sensação alem blog.
é como sentar numa poltrona num imenso teatro e ver voce postando no palco da vida. Vida que vc tão bem sabe contar...
Maurizio
Os dezembros são meses especiais mesmo...acontece tanta coisa..tanto planejamento. Dizem que acontece as melhores coisas (nasci dia 22, pertinho do natal, fui um presente). rs embora eu acredite que os meses são iguais, o restante, eu me engano quanto a dezembro. O aroma, principalmente o aroma, que este mês me proporciona se coaduna com o que você descreve em seu poema, idolatrado por mim, hoje, aqui. Fico feliz por estas palavras serem lidas por tanta gente, porque assim desperta valorização não só do mês, mas das pessoas que o fazem acontecer. Com carinho,
Dan
Belíssimo seu texto!!!
Com suavidade dilacera os sentidos!!!
BEIJO GRANDE!
ira, queridíssima,
deambulo pelo calendário e não consigo fixar-me em qualquer ponto que pudesse adoptar como meu irmão-gémeo. de todos ressoam folhagens perdidas em dias de ventania que agita os vidros e as areias que nele se empoleiram; de todos verberam feixes irisados de luz silente cruzando tempos idos e outros de porvir. adopto-os todos, sem excluir; deixo-os entrar na sala dos dias e no quarto das noites, na certeza de que mais me embalam eles a mim do que eu a eles. até ao dia em que um deles - qualquer um - me adopte, definitivamente. oxalá, nesse então, a janela esteja aberta e o sol me cubra o rosto desflorando sorrisos.
belíssimo texto. a pele é a tua escrita. quantas vezes a visto em mim?...
um beijinho!
ira, poeta e amiga de viagens longínquas,
pois o pedro a que me referia não era esse humanista que uniu as mãos de aquém e além atlântico, mas um dos seus mais ilustres descendentes: o ramúcio. é que li, no teu blogue, que este estimadíssimo amigo e homem de sensibilidade muito especial partilhou contigo o desejo de um dia vir a portugal. não resisti a acenar, desde aqui, como que dizendo que portugal cá estaria para vos receber.
enquanto esse dia não chega, vamos viajando nas águas da poesia.
um beijinho!
Mas eu acho que a vida é um jogo sem saber porque as pessoas se comportam assim. Apenas os sonhos fugazes de amor permanecer vivo... Eu te beijo e desejar um feliz fim de semana. Felipe
Ira,
Belissimo o teu poema!
De fato, os Dezembros mostram-nos com maior evidência os lados opostos da sociedade; a luz e a escuridão, O calor e o frio, a bondade e a indiferença...
Beijos!
AL
Leitura feita encantamento. Esse Dezembro, gostaria que fosse o meu. Lindo texto. Parabéns, Ira.
Oi amiga, rica descrição metaforizada e com muito simbolismo sobre as representações sociais inerentes ao mes de Dezembro... Respeito as tradições humanas, mas acho o Natal uma data melancólica e mais atrelada ao consumismo imposto do que a questões exitenciais e de crenças pessoais. Muito bom e interessante o texto... Bj grande.
Ira, vivemos de saudades. Mas também do presente - o dezembro com a celebração da Encarnação de Deus entre os homens, propiciando-nos a esperança da Ressurreição. Então, estaremos prontos para recomeçar em janeiro.
Vivemos de saudades, de memória, repito. E você desfila memórias maravilhosas em suas palavras. Tem muito para dar graças em sua vida. Tem muita riqueza interior para ser uma pessoa privilegiada.
Um beijo.
É exatamente no mês de dezembro que vemos a desigualdade social, o desrespeito e a falta de amor e de solidariedade do ser humano para com o seu semelhante.
Beijos e boa noite pra ti e para os teus.
Furtado.
Ira,
Dezembro é difícil para mim. Eu pularia também, tranquilamente, sem dó, esse mês, não cairia no Carnaval, mas sim em março. Amo esse mês, para mim, renascimento (tardio, não?).
Beijos!
Suzana/LILY
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