INSPIRAÇÕES DO POETA
21 de jan. de 2012
Carta para um amor triste
Antes de ti, não o sabia, mas andava insinuada de novidades, como a existência re-existida, eternamente, do espírito ingênuo que reedita a mesma primavera com novos desabrochares, tal qual um mar desajeitado que espuma do ventre mistério e em seguida o devora, depois cospe braços, olhos, outros enigmas num regurgito de renascimento multiplicado, assim era eu, tão fácil.
Não pensava em ti, que existisse infiltrado, e meu ser inflamava-se de toda imensidão desconhecida, e meu peito era liso de pétala. Pensava sim, em felicidade das coisas inatingíveis, pois ali estava a criação do possível, onde uma pequena ave engolidora de navios, viagens, poemas, marinheiros de brumas e de inúmeras presenças, jamais experimentaria o alçapão.
Não pensava em ti, como cilada do meu embusteiro interno, mas sim, como a poça depois da chuva refletindo o sol até secar-se. Que estupidez! Tu és o sol e a chuva, e és o reflexo e a seca. És o que transborda de meu espírito e nem te sei com verdade ou mentira. Simplesmente, não te sei!
Era eu, o inquieto desejo, que tocava o mundo, como se o mundo fosse um livro de todas as minhas letras, mas sem palavras, assim era eu, tão difícil.
Ah, o amor, cachorro doido!
Tu, cão pedinte, que és tão infeliz feito gente, como ousastes farejar meu íntimo?
- Seguir-me, seguir-me, onde tudo existe esquecimento e incerto, onde nada tem de nós ou de ti, onde só há pensamentos mortos, onde sou universo e tudo que se agita lá -
Dirás tu: Sou feito da sombra de tua alma e se te cravo os dentes é com tua boca que o faço!
Não me revelei estranha, mas eu, estranha mais que todas as coisas, jamais haveria de dividir tal explicação, pois qualquer confissão seria mentirosa, então tratei de calar minha beleza e minha infâmia, ainda assim e quanto mais, tu me adoravas inundado, com este coração vagabundo de rua, e me fizestes mais um alguém, de todos, dentro, que não conheço.
Senti um esquecer-me profundo, quando sem exigir de mim, na idéia perdida ou invisível, eu te olhei como se lembrasse toda nossa vida. Por fim, sabia-te útil, como me são as borboletas, senhoras beijoqueiras de flores, que me visitam sempre que preciso sorrir!
Mas que utilidade há em sorrir, se o destino da boca é findar-se completa de silêncio?
O instante do gozo!
Mas que utilidade há na borboleta, se mal nasce e a morte lhe abocanha?
O instante do vôo!
E te amei com todos os instantes que se deixaram viver no tempo, com a goela seca, como aquele que busca no vício sua quietude, e o bebi em exageros covardes, até supondo ser outro veneno que não eu, até caluniando-me de inocente com teus próprios lábios.
E te amei com absurdos, do amor que é e será.
Não meu! Não teu!
Mas o amor que existe de fato, mortal e triste.
Para o poeta da sombra e da luz, o doce e querido Jorge Pimenta, que me ensina os caminhos da libertação... à poesia.
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28 comentários:
Ira,
Há pessoas que surgem para nós apenas para nos levar ao absurdo de nós próprios, sabe aquele momento da vida em que tudo parece ser demais, transbordar?
Beijos,
Suzana/LILY
ira, minha querida amiga-poeta de faces e dizeres mil,
li, reli e treli esta ode com mãos de vento e tempestade sobre cada oceano e todas as terras que um dia dissemos ser nossas - nossas, tuas e minhas, do homem e dos seus sonhos, dos sonhos e de alguma realidade -, enquanto o corpo estremecia sobre o frio lento de cada onda-palavra. e fui "uma pequena ave engolidora de navios, viagens, poemas, marinheiros de brumas e de inúmeras presenças, jamais experimentaria o alçapão". e fui quase deus, projeção de pessoa, talvez sombra, na certeza de todos os objetos que me roubaram a forma e o corpo... e, algures no que sobra da garrafa vertida no copo, adormeci... triste... como todas as estações do amor.
beijo-te essas mãos que acordam os mortos e incendeiam estepes geladas!
grato, com neblina no cristalino...
beijo imenso, minha amiga de tantos poemas de além-tempo!
Bonito texto homenagem, aliás, como sempre.
Um abração. Tenhas um lindo fim de semana.
Concordo com a querida aqui em cima, há gente que nos move para os limites, e não que seja ruim, nem bom, não é maniqueísta, é só real, talvez necessário. Acho que é o que se precisa pra poder encarar o próximo (amor, paixão, etc).
Beijão, Ira.
Demais. Em versos ou não, nunca é viagem perdida passar por aqui.
todo o amor que houver nessa vida, e mais além de todas as impossibilidades
beijo
Ira, tudo bem?
Que lindo teus escritos.
De certa forma são como tatuagens, uma amor assim, cravado a dor e tinta...
Maravilhoso estar te conhecendo e teu trabalho, envolvente!
E o Jorge merece toda consideração e homenagens!
Beijinhos muitos!
PS.: A propósito de tuas tatuagens (no sentido literal), gostei! Mas você é bem mais corajosa que eu que só tenho flores no pé e uma rosa no pulso (pequenas) :)
Alguns blogs aparecem com os seguintes dizeres: Perfil não encontrado.
Lista dos blogs que vou encontrando sem acesso, portanto, sem poder comentar:
Ana Luiza Cabral
Luiz Alfredo Nunes de Melo
ººº
Uauu ... isto tá lindo.
Escrita intensa. O Jota gostou da cadência deste texto. Excelente tom narrativo. (Credo até pareço um professor de estudos portugueses, rs)...
Beijo(ta)
PS - O Jota adora as tuas tatoo's e o meu filho agora quer tatuar o braço todo, incluindo o ombro.
Olá Ira! Passando para agradecer e retribuir a tua amável visita, bem como, dizer que adorei a carta e que, com certeza, o homenageado deve ser merecedor.
Beijos,
Furtado.
Que lindo! Muito lindo mesmo!!
Vim (lá do Jorge), gostei, e acabei ficando por aqui.
:)
Te desejo uma semana maravilhosa.
Beijo fra[terno],
Cid@
Oi Ira...
fiquei absolutamente encantada com sua poesia...
"E te amei com absurdos, do amor que é e será."
maravilhoso!!!!!
tenha uma semana linda!
meu abraço,com carinho...
Zil
PS:vc está linda na foto!
O amor é um andarilho eterno, sempre nos fazem sofrer ...? Bela carta de amor triste. Um beijo (es hermoso tu amigo) ;)
ainda que eu conheça pouco de um e quase nada da outra, ouso dizer que se completam literariamente. realmente é um texto-arrepio, uma homenagem bela, uma escrita instigante.
beijo
Uma poesia especial em homenagem ao amigo Jorge que merece todo carinho!
Palavras cheias de traços teus!
Estás linda na foto²!
Saudade, beijinhos
Ira Brilhante...
tua voz é tão intensa que só me resta deixar-me consumir...
belíssima expressão lírica!
beijinho com admiração... sempre!
p.s: minha nova casa: http://transfiguracoes.blogspot.com/
te espero lá!
vim aqui pela mão do Jorge Pimenta, merecida homenagem
beijinho
LauraAlberto
Colonizador destemido, sugiro que não repita os erros da sua ancestralidade, avançando sobre nossa riqueza explícita em ouro de aluvião.
E muito menos, sobre esta imensa árvore que jamais sera cortada e nunca,no seu navio empilhada,como o foi o Pau Brasil de tempos idos.
Este ouro agora tem dono e esta árvore é inegociável,pois são patrimônios afetivos destas terras brasileiras e defintivamente, preservadas sob a denominação geral e com identidade própria de :Ira Buscacio.
Ela constitui-se na síntese de muitas raças, cores , padrões e origens diversas que formataram nosso cadinho cultural multifacetado.
Ira Buscacio é o presente que no passado gestou o mameluco, quando por inocência deixou-se possuir-se por invasores portugueses e fêz-se ainda,negra escrava das nossas fantasias.
Houve um equívoco nesta carta, descontruída tal como a de Pero Vaz de Caminha, ao relatar exagero e impropriedaes indevidas à metrópole, ensejando assim a desmesurada cobiça sobre estas nossas terras.
E se não suportares e denúncia destas minhas realidades,espero que tenha tido conhecimento de um do nossos maiores dramaturgo e que por aqui viveu, um homem chamado Nelson Rodrigues que dizia:
"Se as minhas razões não corroborarem com as da realidade, então, que se dane essa tal de realidade"
E com a pena de ouro digna da assinatura de lei neste Brasil pós-império, decreto a indisponibilidade de nossa maior riqueza nacional, hoje, repito chamada :Ira Buscacio.
Que que eu minta?
Perdeu.
Um abração carioca e Vascaino!
A vida talvez seja este emaranhado de pessoas que surgem e deixam suas marcas indeléveis... Ainda lembro um amigo da Universidade que me enveredou pelo ideário Anarquista. Eu era uma cara totalmente travado...
Abraço fraterno, Helio Rocca.
Ira,
li, reli, reli, reli... tão lindo, tão conhecido pra mim...
há coisas que nos despertam o absurdo, e são elas que, boas ou más, traçam com tinta mais forte o nosso caminho.
lindo de um tanto que nem posso dizer, e além disso, dedicado ao Jorge, o tão querido Jorge, poeta-amigo que carrego em lugar especial no coração.
beijos muitos!
Ira, cheguei aqui pela trilha do Jorge Pimenta, e há trilhas que o Jorginho aponte que não nos leve a essa febre a essa convulsão? Eu amei! Intensa, intensa, intensa e absurdamente poética.
Beijos,
Ira! Mudei de casa...:) Serás sempre bem vinda!!!
Beijos,
AL
Minha querida
Perante a IMENSIDÃO das tuas palavras e pela homenagem a outro grande poeta que eu admiro, fico em silêncio e deixo o meu beijinho de admiração e respeito aos dois.
Sonhadora
Uma triste carta para um amor triste. Gostei. Bjo
excelente! tocou-me profundamente este texto...
Ira! (toda vez que eu escrevo seu nome, sinto vontade de gritar rsr)
E quanto eu leio os teus textos... ah! sinto vontade de me apaixonar...
E aí, como você está?
Você e as palavras não tem uma mera relação, um casinho à toa... isso que eu sinto ao te ler é demais, transborda aqui um amor quase obsessivo.
...
Aproveito para compartilhar uma novidade com você: lancei hoje, junto com uma amiga jornalista, o blog Tesão de Viver, lá, falaremos sobre os pequenos prazeres da vida, daquilo que nos tira da rotina da casa, do urbano, do tecnológico, da doideira que envolve nossos dias: http://tesaodeviver.blogspot.com/
bjãO da Érica.. sua adotada, não esqueça!
querida!
perfeição e intensidade
são suas marcas.
belo!
PS:adorei o novo visual!
belo texto! a compartilhada a admiração pelo poeta poderia ser, por si só, motivo para acompanhar seus textos. mas olhando aqui, vejo muitos e muitos motivos a mais.
beijo.
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