Pedra do Leme.

De onde estou vejo o mundo mudando de formas e cores.
Caleidoscópio! Meu ópio é viver nessa cidade,
Onde o mar e a liberdade
Confundem-se nas calçadas onduladas em branco e preto.
Sentada na Pedra do Leme, quem teme as armadilhas das ilhas?
A solidão cercada de mar e segredos?
Quem teme os rochedos?

De onde estou deleito-me com céus azuis perfeitos.
Vejo as nuas montanhas exibidas e prosas,
Como mulheres atrevidas projetando curvas sinuosas.
Ai de mim, aventureira ardente!
Quero na pele águas do Atlântico,
Gente efervescente,
Música, dons, cânticos.

De onde estou há uma sensação de estranheza debruçada na areia.
Ondas se espalham e saboreiam a nudez sem pecado.
Ah, leito dos enamorados!
Sonâmbulos andarilhos misturam-se a bruma,
Que perfuma dialetos de todas as línguas.
Cantam e dançam entre a burguesia e a mendicância
Na ânsia de não morrerem a míngua.

De onde estou sinto os tropeços das velas.
Caravelas ao sabor do vento ameno.
Vislumbro as cores do continente moreno
De todas as dores e alegrias.
Dos poetas sem caras e de insanas poesias.
Embriago-me da doce ilusão dos artistas,
Das mulheres dissolutas, dos classistas.

Sentada na Pedra do Leme quem teme a vida, santa ou bandida?
Olhares de escotilha percebem infâncias recentes,
Como se pudessem tocar suas vidas.
Pés desnudos, vez ou outra submergem do mar reticente,
E percorrem o trajeto ziguezagueante da pipa no ar.
Meu coração de Helena acena
No alto da pedra. Espera o tempo passar.