Havia uma noite perdida, como um calabouço frio.
Como um rosto inexato no ato do abandono.
Havia um pranto velado, como quem abafa o grito.
Como a mão do carrasco que feri ferido.
Havia uma fúria marítima no desembarque de um breve capitão.
Com a sede dos mares e os pés de carvão.
Apossou-se de mim.
Envergonhou-me assim.
Sem ousar gestos conscientes aceitei na pele seu beijo áspero.
Tomou-me como um bêbado frenético, um marinheiro de braços fétidos.
Vomitou sobre meu ventre orvalhado às noites, os dias, o rum refugado.
Refastelou-se do fel grudado em meus pêlos.
Não viera desvendar segredos, explorar desejos, dizimar medos.
Não quisera descobrir mares e terras, levantar bandeiras, enfrentar guerras.
Assim como veio, sorrateiro e voraz partiu no amanhecer quase lilás.
Deixando no canto do quarto um lastro, o cheiro de maresia, minha vida vazia,
E um cinzeiro de alabastro.
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