INSPIRAÇÕES DO POETA

25 de jan. de 2008

Amor do Mar

Havia uma noite perdida, como um calabouço frio.
Como um rosto inexato no ato do abandono.
Havia um pranto velado, como quem abafa o grito.
Como a mão do carrasco que feri ferido.
Havia uma fúria marítima no desembarque de um breve capitão.
Com a sede dos mares e os pés de carvão.
Apossou-se de mim.
Envergonhou-me assim.
Sem ousar gestos conscientes aceitei na pele seu beijo áspero.
Tomou-me como um bêbado frenético, um marinheiro de braços fétidos.
Vomitou sobre meu ventre orvalhado às noites, os dias, o rum refugado.
Refastelou-se do fel grudado em meus pêlos.
Não viera desvendar segredos, explorar desejos, dizimar medos.
Não quisera descobrir mares e terras, levantar bandeiras, enfrentar guerras.
Assim como veio, sorrateiro e voraz partiu no amanhecer quase lilás.
Deixando no canto do quarto um lastro, o cheiro de maresia, minha vida vazia,
E um cinzeiro de alabastro.

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