INSPIRAÇÕES DO POETA

13 de jan. de 2008

Brasileiro de fé

Nunca que ninguém já viu, mas há quem garantiu.
Há quem deboche. Quem vexe. Quem rogue uma prece pra Deus que é do Brasil.
Lá vai ele, o velho pai Adonai cansado de tanto trabalho, meio de saco cheio.
Procura um santo, um fulano, um milagreiro.
Qualquer um de seus filhos. Beatos andarilhos!
Alguém que suporte o gosto da morte, da sede, da fome.
Alguém que não tenha sobrenome.
Um São Francisco que se confunde com rio, com homem,
Com o assobio dos ventos nas curvas do nada.
Carece, mas não brada! Cala por fé e resignação.
Não requer andor nem manto, o tal santo brasileiro.
Como um Zé Ninguém e sem vintém, Deus caminha em pele e osso.
Anda pelas docas, nas malocas, palafitas da sorte.
Pisa nas planícies, nos planaltos, nas caatingas, sem o menor sobressalto.
Sina de vida e morte sem murmúrios.
No rigor do peito, a força de um amor mais-que-perfeito.
A despeito dos sacrifícios, dos martírios.
Dos filhos adormecidos em desertos de descasos.
Em misérias, em atrasos, em covas enfeitadas por cactos.
Um bom e fiel pastor, cujas mãos mantém a centelha da tolerância acesa,
Por compaixão e gentileza.
E chora pelas meretrizes.
Sente a febre dos corsários.
Bebe o fel dos ordinários.
Ama a fé dos infelizes.
Cega para toda esbórnia.
Come os restos dessa escória.
Um Deus brasileiro de fé!

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