INSPIRAÇÕES DO POETA

12 de jan. de 2008

Poema de um dia triste

Não havia sonho nem contentamento.
O vento transgredira a ordem do tempo.
No peito, a tempestade.
No rosto, a impassibilidade.
Um lamento mudo consumira os ossos e revirara o velho baú de remorsos.
Constrangera sentimentos e sentidos.
Restara um corpo inerte, um hiato, olhos umedecidos.
Não havia música nem poesia.
O silêncio era primazia das pautas dos dias.
Dias sem auroras, sem rotas nem gaivotas.
Dias imortais. Dias iguais.
Acrescidos de pó e frio, céus sombrios.
Não havia mais remédio, só tédio,
Melancolia ardida, febre, azia.
Da janela pequena do pequeno prédio,
Contemplara a simetria dos vagões que deslizavam sobre os trilhos.
A noite desabrochara luares perversos e o momento era de anestesia.
Como estrelas, versos caíram sobre o olhar que aprisionara um amor.
Um amor que nunca vivera, mas que definitivamente, jamais esquecera.
Não havia torpor ou medo.
Molhar os pés no mar era o segredo.
O resto, intuição, sublimação, acaso.
Caso chegasse a hora seriam seus os meus passos,
Meu destino, minha vida, meu desatino.
A mão indelével sobre a outra, ainda ressentia a falta do amor perpétuo e invasor.
Não havia mais tempo de esperas.
O outono era avassalador e sinalizara urgência em avançar.
Dizimar fina-flor, instalar na alma o flagelo da dor.
Afogaria todos os planos em oceanos desconhecidos.
Exilaria os espíritos destemidos dos que sempre acreditaram, dos que sempre e sempre amaram.
Por Deus, que venha o derradeiro amor!
Incendiando idéias, paralisando os relógios,
Negando verdades absolutas e inúteis.
Trazendo febre e mel, flores e virilidade.
Sem pudor nem siso.
Ampliando o sabor anarquista do riso.
Como estopim de canhão.
Como redenção!

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