INSPIRAÇÕES DO POETA

13 de jan. de 2008

Quem não quer uma avó?

Você conhece gente mais sabida do que vó?
Ela tem sempre um ditado, um fato.
Carinhos, retratos, chazinhos.
Beijos pra curar machucado.
Um cheirinho de colônia.
Ah! Aquela velha insônia.
Esperando disfarçadamente o último a chegar.
A minha parecia ter saído do Sitio do Pica Pau Amarelo.
Um pouco mais magra e curvada,talvez, mais lenta.
Altiva nos seus 83 anos de histórias, entre lágrimas e glórias.
Sempre generosa na conduta, nas palavras, na luta em preservar dignidade,
Criar filhos e netos, conceder afetos.
Hábitos antigos. Coisa de quem viveu sem pressa,
De quem cumpriu promessas.
Do tempo do rádio, da seresta, da sesta após o almoço.
Do leite em garrafa, das farras no Posto6.
Da quitanda, do freguês, do carteiro correndo dos cachorros.
Dos morros sem balas perdidas.
Do bonde, do namoro as escondidas.
Como fruta boa, cresci sob um olhar jardineiro.
Tornei-me madura ao lado dessa mulher de pouca estatura.
Curva, dona de um coração tamanho, que até hoje estranho poder ela carregar no peito.
Bendito seja o leito que ora descansa.
Que vontade de ser criança!
Só pra tê-la de volta cercada de coisas banais.
Do chinelo gasto, da camisola rosa, do lencinho branco e casto.
De coisas que não voltam mais.
Sinto saudade, é claro!
Pois aprendi com ela que raro pode ser o trivial.
Algo que não se vê. O que se pode ter.
Aprendi que existem caminhos, escolhas, flores e espinhos.
Aprendi que existem pecados nas mãos de manipuladores.
Oportunistas que ferem a ética, a poesia, a ilusão democrática.
Que negam a soberania da gentileza
(destreza de quem sabe cultivar o imprescindível).
Não fossem seus desvelos, talvez me perdesse por estradas fáceis,
Por elogios precedidos de segundas e terceiras intenções.
Muito comum aos milhares de aventureiros que ao contrário de Antônio Carlos e Jocafe. Usam o intelecto para promoverem covardias e mutretagens.
Imagens cotidianas do capitalismo selvagem, da vida tão moderna. Que merda!
Ah, velhos e bons tempos!
Que falta me faz aquele bolo de fubá ao cair da tarde, às pequenas vontades satisfeitas,
O creck-creck da cadeira de balanço, o tempo passando manso, a enceradeira,
O domingo na Colombo, os tombos de bicicleta, as muitas mocinhas discretas.
Saudade do bolinho de chuva, da Mão e a Luva, da Moreninha, da vizinha tagarela e dela, minha vó Leonor.
Tão rósea, flor amorosa.
Sentada no sofá com o olhar distante e o dever cumprido.
De repente, ela esboça um sorriso tímido, mas ainda cheio de esperança,
Como se compreendesse a dança do mundo.
Um mundo que breve não veria mais.
Ah, que falta essa mulher me faz!

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