INSPIRAÇÕES DO POETA

3 de nov. de 2009

Ele Vem!




Estou pronta!
Há uns quarenta e poucos anos, somente, que aguardo a chegada dele. Ah, homem de passos confusos, quantos delírios meus sonhos derramam!
Não sei, mas meu instinto perdigueiro dá-me a certeza. Ele vem!
Vou calçar-lhe os chinelos e dar um pulinho no sótão, onde só, tão só guardei a camisola branca, em papel azul. Vesti-la vou, diante daqueles olhos masculinos e haverá beleza nisso.
Amo-o tanto, que colei a juventude no espelho do quarto e esqueci de dar corda no relógio.
O tempo me envelhece e vive no previsível lugar-comum, mas pouco sabe de amar. Não reconhece seu lugar e seu lugar, não cabe em mim.
Ah, tempo! Não nasci pra ser tripulante. Nasci pra audácia! Sou comandante desse navio cheio de Iras.
Meu coração não desbota. É vermelhinho, vermelhinho. A cada ruga que brota, em minha face-poeta, uma flor nasce rosa.
Amo-o tanto, e hoje resolvi dormi-lo entre as minhas pernas, nu e confundido de gozo, meu e seu, viscoso.
Liga que me liga ao nosso ofício: o entendimento dos corpos.
Não quero mais acordar, nunca mais, alma, temor. Só os corpos são intrépidos.
Quero viver nesse espaço de cetim branco, tão repleto da figura dele, como se fossemos velhos desconhecidos, mas nunca estranhos.
Minha obsessão é movimentada e inconstante, ora é fome de cio, tão ordinária, quanto à fúria do soldado em guerra, ora é esquecimento e mais nada.
Não quero pensar, enquanto ele atravessa os anos e me alcança. Que distância assassina, esse mar tem!
Inventamos calabouços e torturas e que sejam, se assim, que sejam, mas senão, que nossas almas beijem os dias perdidos.
Pensar é medonho e oprime a cervical. Deixa-me enferma e febril, tal e qual a saudade, das coisas que ainda não vivi.
Pensar é não sentir, como confundir os olhos. Dói, quando se vê pensando, pois destruímos as coisas, como elas realmente são. E se boas são, porque fingi-las. E se más são, porque não senti-las. O que importa é que existam.
Enquanto não o tenho e não o perco, eu finjo que o ignoro e finjo mais, que não existimos. Mas há! O amor, sério, do que não é falado, por isso o espero, maior do que pensei, pois não pensei, apenas senti.
Nada existia além do meu jardim. Nada além da linha do equador, alguém ou coisa alguma, mas um íntimo Deus me diz: Ele vem! Ah, o amor... Amém!

7 comentários:

Tato Skin disse...

Cara, fiquei sem folego... com tanto amor. Lindo............lindo de tudo, de sentir, ter, ver, ler e amar.
Arrepiou Ira a alma e o coração.
Bj meu Menina-mulher-amor-poeta.
MK

Na tua ausência com frequência,
sinto teu frio na chuva,
teu hálito no vento
e no calor do sol...
teu FOGO.

Rosemildo Sales Furtado disse...

Diante de um amor com tamanha intensidade como esse, difícil será a não concretização do sonho. É como dizem: "A fé remove montanhas". "A esperança é a última que morre".

Lindo! Adorei! Parabéns!

Beijos,

Furtado.

Sandra Botelho disse...

Lindissimo...
Que amor intenso...
Amei teu blog, estarei caminhando por aqui.
Bjos no coração!

Úrsula Avner disse...

Belíssimo texto Ira ! O que você escreve é para ser digerido pouco a pouco, palavra por palavra. Mais um de suas faces que revela segredos, em articulada e bela linguagem. Bj com carinho.

Paulo Tamburro disse...

IRA BUSCACIO, você está abusando do direito de escrever textos impecáveis!

Por que você faz estas coisas?

É para nos deixar com inveja?

Manter-nos à distância desta sua incrível competência para elaborar estas frases bordadas, como uma tradicional rendeira de bilros?


IRA, se qualquer mulher, num momento de alucinação e desespero, escrevesse um texto destes para mim, eu passaria na primeira loja da Kopenhagen e compraria todo o estoque de Nhá-benta, sabor tradicional de marshmelow e levaria para ela.

E também, caixas de bombons de cereja, e outras bugigangas e quinquilharias.

Olha seria uma festa!

Infelizmente os textos que recebo são só deste tipo:

"Comunicamos que V.Sa, tem um prazo de 72 horas para liquidar sua prestação em atraso, referente ao contrato 009876/2009, caso contrario, lamentavelmente, enviaremos seu nome para o Serasa".

E o cara ainda escreve: "Atenciosamente", etc e tal .

É isso IRA BUSCACIO, uns abençoados pelas graças dos textos de amor, outros condenados aos avisos de inadimplência.

Eu sou "os outros" (rs).

Um grande abraço, Ira.

PS. Você comentou lá no HUMOR EM TEXTO, dê um pulinho lá agora, que você vai entender.

Gian Fabra disse...

Oi Ira,
obrigado pela gentileza do comentário, saiba que a identificação foi mútua...
comecei a ler esse texto e terminei sem ar, que coisa avassaladora garota! Depois fui ler os outros mas dessas vez respirei fundo antes de começar. ;)

Quando se começa a ler vc, não dá pra parar.
bjs

CARLA FABIANE... disse...

BOA NOITE !!!

Que todos os momentos de alegria...
durem para sempre
e que o amor seja infinito
enquanto dure.
Que a vida seja bela,
pois esta é a maior herança
que Deus nos deu.


BEIJOS.