INSPIRAÇÕES DO POETA
14 de mai. de 2010
Siameses
Estavam em estado de luxo, onde não se sabe quem é, porque de súbito tinham quatro mãos e quatro pés. Um órgão genital, apenas, que fervia e apitava, como uma chaleira trepidante.
As crinas eriçadas das duas cabeças, que ora roçavam e ora bebedeira de saliva estavam presas, naquele corpo úmido e único. Bicho medonho, esse desejo!
De que matéria era feito, esse ser desnudo e de cheiro inconfundível?
Sei que vivia de urgências, de um fogo que acalorava a varanda, a rua e quem passasse ao largo. Pobres coitados, os vizinhos! Não dormiam com os gritos que pareciam de gatos, mas eram versos de amor amplificados.
Saídos das duas bocas que tinham e eram obscenas. Viviam em pecado, as deleitosas!
Não mentiam gozos, porque adoravam morrer e assim, torturavam-se de beijos e mordidas.
Naquele corpo estranho havia uma dança suicida, uma morte cuidadosa, que merecia vestígios e coragem. Era safadeza de Puta e Fausto, em ecos. Um dentro do outro matando e morrendo a natureza siamesa.
Estavam em espanto arrematando a fome famigerada da entranha e eram virgens suas almas. Comiam-se, como necessitados,
Como bicho de umbigo colado, que quer metamorfosear no sangue que sai do sexo e voar feito homem e mulher, mas estão presos, os devassos!
Sob a pele que guarda a memória, o medonho bicho fode a carne unificada. O escorpião obsessivo devora-se!
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4 comentários:
Oi amiga,
fiquei impactada com a leitura do texto ! Com sensibilidade e muita habilidade literária, você usou de várias e ricas imagens poéticas para retratar a simbologia que os siameses carregam... Belo, forte, visceral, reflexivo... Bj com carinho,
Úrsula
Ler voce é isso... transpor ritos de passagens.. guardar na pele memórias, devassos pensamentos e essa obisessiva fome!
Naquele corpo estranho havia uma dança suicida, uma morte cuidadosa, que merecia vestígios e coragem.
Acho que é isso!
Lindo passar aqui... bj meu
mk
IRA BUSCACIO,
texto lindo e assustador!
Siameses, que óvulos e espermetazoides mais descarados os geram?
Natureza em pane!
Foi literalmente um acidente de percurso quem o criou, com genes bastardos e dna"s enroscados num só,com duas cabeças para serem torturadas pela proximidade, sem descanso, sem trégua, morticínio enquanto, bater o coração.
E você os aprisionou , mais ainda, neste texto hermético, lindo mais absolutamente, assustador.
Extraordinário, Ira Buscacio.
Nossa,fala sério!
Um abração carioca.
"Sob a pele que guarda a memória, o medonho bicho fode a carne unificada. O escorpião obsessivo devora-se!"
Confesso nao recordar da ultima vez que encontrei alguem que escreva de modo tao intenso, tao original!!! Simplesmente incrivel!!!!
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