INSPIRAÇÕES DO POETA

28 de out. de 2010

Pedra Dura




Considerei que passar noites fumando, e bebendo, e ainda contando histórias embriagadas, que sempre são minhas ou dessa mulher que vejo no espelho e me confunde, ao leve toque das teclas, não aquietaria meu espírito teimoso de querer ser um todo. Saí e fui enfrentar os instantes, como quem é comum, e lê revistas na anti-sala do analista.

Eu era um tosco quebra-cabeça, alguns pedaços de gente que fui e outros do qual serei e, eles não se encaixavam no hoje, de sustos, de ausências sem sentidos, como se tivesse perdido a peça central.

Talvez nem existisse, talvez o inteiro fosse, exatamente, a falta dessa peça, esse hiato respirador, onde na folga pudesse me recriar e criar outros desenhos, outras possibilidades, mas havia o medo, o botão vermelho que acionado implode – a morte por explicação - e ainda queria ser completa.

Não entendia essa trajetória do tempo na alma, essa mania da essência querer se explicar já sendo. É dizer as pedras: Vocês foram feitas para serem duras, então que sejam! Já esta lá, a natureza de cada coisa e mesmo sabendo pouco ou nada, tudo é de uma grandeza infinita.

Tenho tendência forte ao amor e ele me apazigua quando não compreendo as metades nem os inteiros. Eu sempre me perdôo por essas tentativas inúteis de palavras. Nós somos “o silêncio” do universo e vivemos desse mistério, sem que ele nos exija.

Estou alegre, de felicidade experimentada. É que ando de mãos dadas com tudo que não sei. Amo!

Ele: Sonhei com você.
Eu: Bom ou ruim?
Ele: Ruim, você estava com outro.
Eu: Então, não foi ruim e sim, indiferente.
Ele: Não, ruim, porque gosto de você!
Eu: E porque soltou a minha mão?
Ele: Uma coisa é gostar, outra é querer!
Eu: Que bom! É que agora, só tenho flores nas mãos, você levou os espinhos.

20 comentários:

Ava disse...

Ira, toda a magia dos grandes poetas, creio eu, se resume nesse mistério de que nos transportamos para suas palavras, e vivenciamos as mesmas dores, as mesmas paixões, as mesmas saudades...

Seu texto me provocou essa reação, mergulher de ponta cabeça nele, sem cilindro de oxigênio...

Moça, tua almaa em tuas palavras...


Beijos e carinhos imensos!

AC disse...

Ira,
A sua escrita - irrequieta, inquieta e ousada - cativa-me bastante, pois é muito sentida e física. E creio que está cada vez melhor...

Beijo :)

♪ Sil disse...

Ira,

Coisa mais linda suas palavras, minha flor!
Entender a trajetória do tempo, é algo que acho tão impossivel.
Como se olhar no espelho todos os dias e tentar descobrir na verdade quem eu sou.



Estou alegre, de felicidade experimentada. É que ando de mãos dadas com tudo que não sei. Amo!



TÃOOOOO EUUUUUUUUU hehehehe!

você escreve, como se lesse a alma da gente.
Adorooooooooo-te!

Um beijo meu!

s a u l o t a v e i r a disse...

Nossa! Adoro o termo "hiato", há tantos em todos... é tão grande isso.

"... a morte por explicação - e ainda queria ser completa." Essa explicação que nos mata é porque descobrimos nossa completa finitude arrebatadora.

Você é voraz, Ira. Te sinto assim, com uma "felicidade experimentada" - se joga, se permite. Deixa os espinhos do outro com o outro e leva só as flores.

Gosto muito de vir aqui e te encontrar!

Beijo grande moça. Ótima quinta.

Ah, uma grande amiga da blogsfera (Carmen Silvia Presotto - Vidráguas) vai lançar um livro dia 12/11 no Rio, Livraria Argumento no Leblon às 20hrs, estarão alguns blogueiros presentes - Eu, Marcio (interTextual), Patrícia (Dias genéricos)... Marca na agenda, tá?
Será maravilhoso o encontro.

Érica Amorim disse...

rrs... o amor apazigua quando não entendo as metades nem os inteiros... disse bem, muuuito bem!

um mega beijoOOOOO!

Marcelo R. Rezende disse...

Sabe, vou te confessar uma coisa, sempre me acho muito burrinho quando leio seus textos, porque é super difícil comentar, mas vamos lá:

Esses pedaços soltos, essa vontade de explicação e, ao mesmo tempo, a constatação de que não se precisa teorizar, ah, minha diva, ainda mata todos nós. Quem escreve acha que tudo pode ser completado com palavras, quando nem tudo foi feito pra ser completo.


Super beijo do filhote.

Tato Skin disse...

Cara, há sempre uma ansiendade, já percebeu???
Somos todo, mas sempre julgamos faltar peças.... tenho várias sobrando, posso emprestar algumas... pra complemento dos incompletos seres misteriosos, que nunca sabemos ser bom ou ruim...apenas que somos feridos e salvo, por vezes ferimos....faca de dois gumes....é isso somos um todo, incompleto.
bj meu
mk

Ops: não..... (mente sana in corpore sano)
só viajei no texto!!!

Jorge Pimenta disse...

quantas vezes o todo tem de desprender uma de suas partes para... poder respirar?
texto belíssimo, de um intimismo arrebatador, que culmina num oaristo emocionalmente sanguíneo ("É que agora, só tenho flores nas mãos, você levou os espinhos").
um beijinho, querida poeta amiga!

Carolina disse...

Ira , a felicidade é como montar um grande quebra-cabeça, mas como é bom sentir!
Es un hermoso poema, muy sentido.
Un abrazo.

Lua Nova disse...

"...Já esta lá, a natureza de cada coisa e mesmo sabendo pouco ou nada, tudo é de uma grandeza infinita."

Moça, vc fala com anjos, não é possível... eles sussurram pra vc e vc acha sempre, no labirinto das palavras, a saída perfeita, o verbo fundamental, o sentido inesperado, mas em perfeita sincronia.
O que eu adoro em vc é essa tua alma nua, corajosa, com gana de viver explícita e grávida da esperança.
Muié, tu é fogo!!!
Gosto de vc pá xuxu.
Beijokas.

Phivos Nicolaides disse...

Texto agradável e interessante. Gosto de visitar o seu blog querida amiga Ira. Bjos achocolatados

Rob Novak disse...

"essa mania da essência querer se explicar já sendo" é natural a maioria das pessoas, infelizmente. O bom é que sua tendência forte ao amor sereno deixa tudo mais simples na hora em que as palavras faltam, ou falham.

Bonito texto :)

Bjo

Úrsula Avner disse...

Oi amiga querida,

texto profundo como de costume que nos leva á reflexão... Também me confunde a mulher que vejo no espelho e isso é busca de auto-conhecimento. Grata por seu carinho ao comentar sobre o lançamento do livro. Bj grande.

Mimo Chic disse...

Ira ,
BRAVO!!!
vc é demais, amo ler aqui, amo me perder por aqui!
bjs com carinho
Lulu & Sol

Érica Amorim disse...

Oie! Td bem?
Passando rapidinho pra desejar um ótimo feriado.

bjãO

Franck disse...

Eu tenho flores nas mãos...quem vai querer?
Beijos***

Fulvio Ribeiro disse...

Ira...

Tenho que lhe confessar que ler você é um aprendizado enorme para mim.
Você é muito Boa...!!!
Grande Abraço.

| A.Luiz.D | disse...

Saudades, estive fora....
depois vamos para a anti-sala
conversar... :D


bjos

Suzana Guimarães disse...

Vim.

Gosto muito de você.

O título do texto não deveria ser PEDRA DURA, e sim "IRA", ou "SIM, EU MESMA, PRAZER!".

Encontrei você nele, e não uma pedra dura. Talvez um bambu, que enverga, enverga, mas não quebra. Talvez uma peça moldada em argila, antes do fogo, à espera.

Beijos!

Phivos Nicolaides disse...

Olá meu querida amiga Ira! Como você está? Tenha uma linda semana!
Se você tiver tempo, dê uma olhada na revista meu filho está editando. Obrigado. PULSEmagazine