INSPIRAÇÕES DO POETA
20 de jan. de 2011
As Orelhas Sem Voz
Corto tuas orelhas pra que não escutes tua boca, este céu de meteoros, que explode demência sobre nossa casa.
Talvez as guarde em caixa aveludada, como se fora um par de alianças antes das núpcias, até que o silêncio cubra os pensamentos.
Quem sabe, em noites de gentilíssimos invernos mansos, eu as exponha ao sereno e sussurre, dentro da cavidade, algumas poesias exiladas em diário.
E teus olhos envergonhados derramarão chuva miúda, antes de cerrarem as pálpebras, e se encostarão ao meu ombro sabendo por que chove do lado de fora.
Corto tuas orelhas, após caminharmos em nossa promiscuidade, como sombras sem nomes, até atravessarmos o rio, noutra margem, águas claras.
E sem te ouvir, tua boca temerá meu rosto cheio de letras, o que fará tua língua abandonar os entulhos e devolver-me em pétalas a linguagem.
Ainda em desvelos deceparei tuas orelhas com cacos de vidro, do espelho estilhaçado, que refletiu nosso avesso e minha dor jamais será ouvida.
Assim, quando o ciclo da amargura se fechar, o sangue será vinho, a cartilagem o pão e nós voltaremos ao branco, da pureza original, em comunhão.
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22 comentários:
Cortante.
Como será se atar os braços, costurar a boca, vendar os olhos?
Ou talvez, abrir a boca, as orelhas, arrancar as pálpebras, esticar os braços?
Tua poesia me rasga o peito.
Te adoro.
Aiaiai... que os ciclos amargurados se fechem logo!
É o eterno ir e vir, da vida! Td muito lindo aqui Srta! abraços
Antes, Ira, que cometas esta loucura, quero ouvir-te. Beijos
Minha amiga Ira, o ciclo de amargura vai passar, pois tudo passa. O tempo se encarregará de disso. O tempo, o remédio para tudo. Gosto muito do teu texto. Tu tens obras publicadas?
Um grande abraço.
Ira, que absurdo de lindo.
Sabe que às vezes eu sinto vontade disso, de que tudo se faça silêncio, de que seja tato e olho, que eu veja apenas, e que consiga decifrar os outros sem que eles falem.
Queria que fosse mais fácil o entendimento, sem sangue, sem dor, sem que precisasse haver uma catarse pra que o novo chegasse, pra que puro ficasse.
Mas eu penso, qual seria a graça?
A dor faz a parte e a vida pulsa.
Beijo do filhote.
Ira, adoro demais o modo como escreves.. usa as palavras de forma linda e uma mistura que poucos tem o dom de fazer.
Tem um selo para ti no meu blog, fique à vontade para postar ou apenas receber ;)
http://mundobrasileirissima.blogspot.com/
beijos...
Não me lembro de ter lido um mais bonito que este por aqui. Muito bom mesmo, Ira. Abraços.
isso me lembrou van gogh e a sua orelha perdida, van gogh sem orelha vagando na eternidade de girassóis,
beijo
Ira, minha linda e culta poetisa, um extraordinário fim de semana para vc.
P.S. Estarei a viajar pelo Brasil. Afastar-me-ei da net por alguns dias.
Beijos
Incrivelmente lindo!
Beijos.
Ira,
Hoje vim aqui para deixa um beijo especial, e agradecer por você fazer parte da minha história, tem um selinho para você lá no blog!
ouvi que a orelha se fecha em tímpanos tímidos filtrando o silêncio. e todo o [nosso] mundo recolhia, em reverência surda, ao círculo cartilaginoso da pureza original. vestido de branco, com.unha.mão!
beijos e pétalas, querida feiticeira-da-palavra!
a vida é assim mesmo, tem altos e baixos, venturas e tristezas há que saber superar tudo com ànimo forte...
Sempre em busca da pureza original!
Em comunhão, Ira.
Beijo.
Os ciclos amargurados exprimem o melhor e o pior de nós, coisas que as vezes nem nos damos conta!
Ow Ira tava mesmo com saudade de vc! da sua cara boa, das suas palavras etéreas...
ótimo fim de semana!
a neta é uma gata, assim como a avó!
bjãO
Na quietude do carinho orelhas cortadas por sussurros delirantes.
Cadinho RoCo
Belíssimo conto!
Te adoro!
como e bom chegar aca y a traves de seus versos voar neles e sentir un hermoso sentimiento feito poesia...
saludos
otimo final de semana
abracos de coracao amiga Ira
Oi Ira, que lindo que você escreve, como suas histórias de angústia e desespero no amor ... é fortemente sentida.
Mas quem é esse bebê lindo que eu estou vendo? Como é doce, ele ri feliz! Beijos para ambos.
"...E sem te ouvir, tua boca temerá meu rosto cheio de letras, o que fará tua língua abandonar os entulhos e devolver-me em pétalas a linguagem."
Amei esse trecho! Lindo, sentido, tão bom...
Beijos!
Suzana/LILY
Olá boa noite!
É a 1ª vez que aqui venho e achei o seu blo interessante e variado.
Saudações poéticas
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