INSPIRAÇÕES DO POETA
6 de fev. de 2011
Canto de Outra Face
Lá estava eu em desalinho cavando os dias com as unhas, as horas rachavam os sabugos, mas ainda assim resistia.
Temia a completude resignada, a comodidade do saber-se não era pra mim, eu tinha planos inquietos de ser outras, outras que fossem corrompidas por afãs externos, tal o encantamento das surpresas.
Queria me dissolver como uma pastilha efervescente que desconcerta o nariz em espumas e borbulha em contradições sedutoras.
Surgir, verticalmente, feito árvore que cresce cheia de braços únicos e recebe o humor do tempo sobre ela.
Decidi enfiar os pés em promiscuidades e sombras, até descobrir os lírios, o depois seria uma coisa qualquer de asas confiantes.
Faz tempo que o vestido curtinho desejava meu corpo, a seda me embriagava a pele. Experimentei-me nele, ou era outra, as coxas aparentes sorviam liberdade e olhei-me como se fosse eu o vestido.
Encara-lo com indecência e porosidade era de fato uma aventura deleitosa, como a noite que devora o dia sorrateiramente, pois estávamos nos possuindo em leveza.
Nada parecia ter sentido, assim como a própria vida, como amar a alma de um corpo que não se possui, mas eu era o vestido e não precisava de sentidos pra existir.
Estava múltipla e arrisquei um batom vermelho na boca, a saborear um Bloody Mary, meu sangue grosso de vícios temperava as vontades.
Saí como nunca fui antes, carne tremula das bruxas rasgada em sangria, a tocar o indefinível ser na dança dos que se ausentam.
Merecia-me a canção!
Ou a suposta outra, que me experimentava.
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23 comentários:
Palavras com um sentido poderoso demais minha amiga... já disse e repito: adoro o jeito que escreves! palavras rebuscadas e que fervem.
Obrigada por teus carinhos.
Boa semana!
Beijos, beijos e beijos...
IRA,
Empresta-me este vestido, empresta-me... e saiba que me deixou com vontade de tomar sal de fruta, pastilha que ferve, qualquer coisa que borbulhe, faça cócegas no nariz e arda a língua, parecendo suspender o respirar... champanhe? Qualquer coisa, desde que ferva.
Um abraço,
Suzana/LILY
P.S.: adorei tua resposta, adorei. E os rabinhos delas crescem mesmo... lembrei-me dos tempos velhos, numa casa velha, elas me namorando, ao longe, enquanto eu fazia minha primeira refeição da manhã.
Desculpe-me... o "post scriptum" ficou imenso.
Nossa radiante teu texto. Ralmente merece uma canção, um experimento direiciado à alquimia textual. Bjs. Jasanf.
Beba, sorva, efervesça, borbulhe, seja quem quer ser.
As mulheres sempre tão multifacetadas, diretas, misteriosas, sensuais, ativas... mulheres, mulher, Ira, Iracema, Buscacio.
Adorei o texto, mesmo. Volto pra reler, com certeza.
Beijos.
Que o canto assim se faça...
Bjs*
Ira,
E as suas palavras efervecentes, faz a gente ter borbulhar aqui.
Texto lindo (Pra variarrrrrr), foto e imagen linda.
Ira? Ela é lindaaaaaa!
Beijooooooooo!
Silzinha!
=)
lindo!
Belo poema, camaleônico, mas, atual. Tem a plenitude do momento, do querer fazer. Adorei!
Independente da "pele", Ira, o importante é vc sentir-se confiante. Bruxa e mulher confundir-se-ão na insustentável leveza do ser... De ser. Beijos
Olá amiga Ira, ao ler o teu texto, senti vontade de dizer muitas coisas sobre ele, entretanto, direi a palavra essencial: LINDO!
Um grande abraço.
as palavras se metamorfoseiam feito imagens,
beijo
Travestidas os espelhos nos subornam... eu e minhas outras amaram te ler e por precaução, mantenho os batons e esmaltes rosinha longe, eles ficam na gaveta do futuro(rs)... enquanto isso, o pretinho básico ri à mulher que descreves em mim.
Um beijo grande Ira, ter tua alma feminina em minha semana, me faz bem, que bom te ler!
Carmen.
Ira,que belo texto,de uma plenitude feminina sem igual!Passei para te ler e desejar,mesmo com atraso,um feliz aniversário!Bjs,
Vez enquando a 'outra' quer me experimentar tbm...
Imagine, este carinho é porque tu mereces!
Um imenso Beijo e obrigada pela visita!
Ser outra dentro de si, torna a mulher completa...
Beijinho de Luz e ótima semana, Ira brilhante!
E meu sangue enferveceu lendo o seu texto,
Vejo que seu aniversario te fez muito bem.
Linda!
Iram
queridíssima amiga,
entre aqueles que conhecemos em nós e os que diariamente vislumbramos à esquina da consciência - quase filhos menores - estende-se todo um sangue fino, esse néctar que perdeu a veia e que agora gravita de copo em lábios, de lábios em boca, de boca em desejo, de desejo em êxtase, de êxtase em frustração. mesmo que a seiva arda no gozo pleno de se ser homem e mulher.
"Decidi enfiar os pés em promiscuidades e sombras, até descobrir os lírios, o depois seria uma coisa qualquer de asas confiantes."
a fusão do espúrio com o belo pelo tubo de ensaio da palavra é a razão maior para crer que a poesia já existia antes do homem e permanecerá depois dele...
um beijo, porta de faces infinitas!
inmensa obra amiga... lindo como cada una de suas letras cada una un sentir cada una emocao pura... y esa cancao mais que merecida }
saludos
otima semana
abracos
Lados e mais lados dentro de um único ser é o que formam você. Um momento. Um dia. Uma noite. Quem sabe? Essa outra pode apenas querer viver o que as outras vivem sempre, e ela morre de vontade de viver...
Beijo!
ave!
uma ave coisando penas de lirismos na minha fuça!
Texto insinuante e ao mesmo tempo delicado e feminino.
Um abraço, Ira
Parabéns, belissimo poema!
As possibilidades de ser, vestir, travestir.
Ser árvore é um achado, mais ainda com promiscuidades baixo seus braços.
Adoro você.
Beijos.
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