INSPIRAÇÕES DO POETA

16 de set. de 2011

ALFABETO DA DESGRAÇAS - Letra R - REDOMA




Alguém canta ao longe, bonito de inclinar, como nunca mais
Uma voz estrangeira que afina, e entra, e dança, e cutuca a reticência da carne evocando os escândalos da pele.
Penso nos discretos hotéis, esconderijos dos apaixonados em furtivos encontros, seus propósitos mais íntimos de febres provisórias e tão sedutoras, quanto os corsários do velho mar
Homens com desejos temporários de audácias afagando os contornos da morte, entre os lábios, sal das próprias almas, o útil temor dos naufrágios, tantos sentimentos experimentados nas proas e atirados as grandes tempestades
Vivo por esse estado poético de consciência impura e convulsionada, junto aos que perambulam pela escuridão: poetas suicidas, bêbados de procissão, mulheres sem estômago, e há apenas uma sina: Navegar!
Por toda beleza dolorosamente exuberante das coisas belas e efêmeras, verdadeiramente, como poemas de amor eterno. Frágeis bordados tecidos a mão, na melindrosa areia, onde as mais intrépidas ondas (fêmeas de um mundo escondido) rastejam línguas de perdição e tudo que existe próximo é submetido aos seus caprichos
Ah, essa voz expansão toda por mim!
Essa loucura de fé que me arrasta a metáforas delinqüentes!
Vontade humana que beira estrada, no mais exótico dos pulgueiros pernoitáveis, e invade os cômodos assombrados de ruídos nervosos, apelos devassos dos que jamais abandonaram as entranhas.
Enlouqueço pitonisa com tantos presságios amarrados as pontas dos dedos.
A melodia vem com todo o corpo, então entra e me agrada, e me penetra como um homem de lirismo insano
Deixo-me frouxa, entre contrários e delírios, sobre a cheselong de segunda, mobília condescendente e depravada, perfeita as leituras mais bebíveis de Bukowsk
O ar esta impregnado de horas proibidas
Sinto o gosto dos amantes criminosos em minhas idéias movediças, esses guerreiros ordinários, de quarto em quarto, os indícios de lutas nas suas unhas abandonadas
Eles me tocam o espírito, fundo, com bocas desonestas, ávidas de todas as fomes inimagináveis do mundo, de todos os beijos
Ai, o beijo, essa sensação mais gentil da morte!
Como não abandonar as vestes anacrônicas diante da canção dos loucos?
Como não amar essa deselegância escandalosa das paixões, quando corpos inquietos se desdobram, tantas pernas, tantos braços, desesperadamente, a provocar diálogos violentos?
E o sexo vulgar segue dominando cérebros burgueses, os hipocritamente forjados de princípios, enquanto a linguagem bárbara ganha os pátios dos manicômios expondo nossa humanidade promíscua e perversa
Ah, que venha esse canto de encantar gente suspensa, como eu, hoje, aqui exilada nessa redoma infectada de patologias, mortes e coisas sem graça
Que seja assim a canção, minha vida, uma vertigem marítima!
A cada estrofe, sopros alternados de lucidez e demência
Ventos de Do a Sol, na solidão desafinada, que é essa ausência desorientada de mim
Alguém canta motivos, sem saber que existo




P.S. Não estou conseguindo comentar em alguns blogs, isso me deixa bem chateada, pois quero levar meu carinho e agradecimento aos amigos que tanto estimo, mas já vou providenciar um jeitinho de resolver o problema de acesso, enquanto isso, to curtindo as escrivinhações poéticas de todos vocês, queridões e queridonas, bjs

5 comentários:

Suzana Guimarães disse...

Ira,

Então, você já está na letra R. Tenho muito o que ler. Farei isso, devagar, mas o farei.

Teu texto me levou aos portos. Aos amores vulgares! Talvez seja bom mesmo que existam esses amores (e eu sei que existem, é claro!)vulgares, se é que podemos chamar qualquer tipo de amor de vulgar. Se é amor não é comum, ordinário. Mas, talvez existam! O que é que não existe por debaixo deste Sol impiedoso?

Vou pensar no 'bêbado de procissão'. Gostei do personagem!

Beijos, melhoras, força, fique em paz e com as letras, elas salvam.

Suzana/LILY

Jorge Pimenta disse...

nenhuma palavra se eterniza nas estações do dizer. há, todavia, alfabetos que, mesmo em silêncio, nos penetram "como um homem de lirismo insano". é esta a face da tua poesia. uma só, em mil e um matizes de saudade.
é um prazer saber-te de volta, querida amiga! desejo que bem e com toda a energia do corpo. as da alma, essas nunca adoecem.
beijinho!

Dilmar Gomes disse...

Amiga Ira, estão tão feliz com a tua volta, pois tinha saudade dos teus escritos, sempre tão consistentes e profundos, como este, por exemplo.
Um grande abraço. Tenhas um lindo fim de semana.

Marcia M disse...

Minha linda sente-se a emoção na tua escrita ,deixo um beijo e um desejo de bom fim de semana!

Unknown disse...

o não saber do mundo, que mesmo à revelia, temos que compartilhar


beijo