INSPIRAÇÕES DO POETA

18 de nov. de 2010

Jogo de azar... ou sorte?




Chovia o dia e um friozinho ameaçava o corpo, então catei um agasalho velho, preto. Nossa! Como tenho roupas pretas... Que atração, essa pelo breu, essa mesma escuridão que vivi todos os meus dias, da não compreensão dessas páginas de rabiscos, que sou livro aberto, eu às vezes branco, quando pensava ser alguma coisa a mais, do que esse monumento metafórico.

Era começo de fim de tarde e ainda teria todo o anoitecer pela frente e ao redor, justo e rosnando, diante da minha solidão ocidental. Tinha um tabuleiro de gamão, descapeado e cansado, ambos cansados! Era conveniente aos dois, que tentássemos uma aproximação, ele jogado num canto e eu no outro, empoeirados.

Partimos pra revanche e tínhamos muitas, nós que disputávamos as migalhas de uma guerra perdida, esfarrapados. Nós que dividíamos o nada, as derrotas e os dados.
Estávamos esquecidos de como se vence, mas necessitávamos de mãos. Ofereci as minhas, um par de mãos, sem ilusões de outras, sem ouro, veias saltadas e fomos ao embate, na nossa humilde coragem de aprendizes.

Lancei primeiro a sorte e de cara, dois ternos. Nada melhor que dois dados, ternos, que protegem as pedras de serem devoradas, eu pedra dura herdada de mãe, porque pai foi quase nada, então poupei o riso ao sinal de tolerância, pois era a vez do cúmplice adversário, o outro, eu impreciso! Lance: Doble Ás...

O caminho mais longo, a subida íngreme a montanha eternizada, o pouco que se leva a boca e sacia, ao temor do vazio. O outro lado de mim, que não sei e que me testava, como um macho e uma fêmea na cama. Andou... Duas pedras, casa, mais duas, outra casa! Estávamos num jogo fechado, onde o precipício era matemático.

Se as pedras andassem separadas, o risco, o exílio, talvez a morte. Se andassem juntas, o eco as guardaria das garras do predador. Mas como não arriscar, se a única saída era atravessar o tabuleiro? Esse inevitável caminho! Nem sempre haveria partner e se houvesse quem garante a lealdade? Quem garante a integridade dos que passam?

Minha vez! Quatro e terno, guarda aberta, sempre foi assim! Avanço com meu exército mambembe, dos que plantam rosas lúdicas, príncipes, raposas e víboras que comem elefantes. Era o suicídio dos loucos! Dos que não se escravizam no deserto humano e ainda encontram vida no jogo de azar. A sorte estava lançada... À chuva caía, eu ainda só, mas os dados... Ainda estão rolando!

12 comentários:

Iram Matias disse...

Olá Ira,

Bom dia pra vc, querida! Lendo o início do seu texto, foi me dando uma sensação de paz, de melancolia... ele combinou tanto com esse tempinho cinzento e frio que Viena nos "presenteou" no dia de hoje.

Beijinhos bem claro pra vc!

Iram

AC disse...

Ira,
A sua escrita é mergulho profundo, até à zona onde não é possível o fingimento. Está tudo ali, palpitando em carne viva, à espera da primeira nesga de luz para se insinuar. É que a "fome" de viver continua a ser muita.

beijo :)

Marcelo R. Rezende disse...

Então, sempre preferi branco. Na verdade sou apegado ao colorido, mas, certa vez, meu ex me disse que o branco era a junção de todas as cores e me apaixonei. Prefiro. Acho tão breu quanto o preto, a gente nunca sabe onde dá, pra onde vai e o match point.


Beijo do filhote.

| A.Luiz.D | disse...

Jogar com você é pura sorte no jogo. Não teria coragem de te chamar de adversária, se os dados se confundem é porque ainda não foram somados.

grande bjo! Ira

Brasil Desnudo disse...

Oi, minha Ira da sorte!!

Azar daqueles que ainda não teve a oportunidade de mergulhar nessas suas loucuras insanas, mas que toca a alma, onde sem agasalho, causa calafrio, mas aquece a alma de prazer!!

Passei pra te desejar uma noite gostosa, sem frio, mas com Amor e carinho, minha querida Ira!!

Bjs


MARCIO RJ

Suzana Guimarães disse...

Gostar da cor preta, gostar do jogo, ser pedra porque não há outro caminho e sangue corre nas veias. Ser um dia nublado, um tabuleiro empoeirado...

É melhor aceitar e esperar o dia da roupa branca, um dia de sol, um jogo sem poeira que conta o passar do tempo.

Bjs!

Úrsula Avner disse...

Oi querida amiga, é incrível como vc consegue transformar questões cotidianas em poemas ou textos reflexivos cheios de metáforas inteligentes...Também amo roupas pretas. Bj com carinho.

Cadinho RoCo disse...

Nos dados os números a nos proporem jogos e jogadas, desafios e derrotas, vitórias idas e vindas de tantas maneiras.
Cadinho RoCo

Kátia Nascimento disse...

Olá minha amiga queridaaaa!!
Que dom vc tem!! Muito lindooo!!
Vc está linda demais na foto, hein?
Às vezes não dá pra comentar, mas sempre venho aqui. Beijoooooos!!!

João Lenjob disse...

Muito criativo!! Gostei mesmo. Desculpe o sumiço, mas o Castelo tem tirado todo meu tempo livre. Beijo!!

João Lenjob
http://lenjob.blogspot.com

Antonio José Rodrigues disse...

Nesse tabuleiro fictício, Ira, onde os dados comandam a vida, nem sempre ganhamos. A matemática da gente nesse jogo geralmente é inexata e, portanto, arriscamos sempre mais um lance. De dúvidas! De expectativa! De sorte!Lance: doble ás; perfil: frente e verso. Bingo! Beijos de sorte

Lila disse...

Minha amiga querida...
A vida é um grande jogo, mas nem sempre as luzes da ribalta estão ou estarão piscando...e nós, de qqr forma, continuaremos a jogar os dados, quiça um dia consigamos que eles caiam no nosso número. Deixe-os rolar...o importante é que o sol venha....rs
Amo
Bjs