Meu Presente

Antes havia Natais barulhentos, com presenças barulhentas e amorosas, rotineiramente amorosas e por isso os presentes se faziam desnecessários, ainda que estivessem a nossa espera, vivos, como as luzes do pinheiro.
Preliminares das ceias deliciosas e fraternais eram rituais dançantes ao redor da mesa, repleta de rabanadas, com toda aquela parafernália de iguarias natalinas.
Éramos uma tribo de gente que amava. Amávamos essas pequenas coisas que faziam parte dos compromissos diários, como respeito, gentilezas, pessoas e tantos outros mistérios.
Havia tristeza e melancolia, mas sem mágoas, porque entendíamos o ciclo da vida e não era possível atropelar a alegria, ela viria, no tempo certo, como sempre foi e veio. Sempre quase o tempo todo, sinceramente!
Mamãe sofria de neurose matemática e adorava somar, depois dividia. Durante o ano a casa estava sempre cheia, pessoas das mais diversas iam e viam, não havia tempo ruim pro cafezinho e uma boa prosa ou então, uma oferta de carinho e pão.
Os Natais aconteciam agregados e multiplicados dessa imensa condição de amor, com a qual cresci e conduzi minha vida. Fazíamos Natal com mãos em atitudes de auxílio, com almas em sentidos de compaixão, durante os doze meses.
Hoje há essa saudade tênue e mais um Natal, só que agora, silencioso.
Penso em como fui honrada por fazer parte dessa tribo e meu coração é tomado por contentamento.
Estarei sozinha bebendo um vinho em homenagem a vida, sem ressentimentos, pois há em mim uma imensa ternura pelas pessoas, um desejo desmedido de paz pra essa humanidade dilacerada e prostituída.
Estarei brindando, com honra e sonhos possíveis, aos sentimentos de piedade e amor, que atingem o homem nessa data, que eles não sejam breves e que façam Jesus nascer, diariamente.
Meu presente? Um brinde a boa vontade!


Esse espaço é conduzido por mãos apaixonadas, vida, humanidade, que são traduzidas nos poemas e textos e é com essas mãos que, a todos, oferto meu afeto e desejo de um mundo com homens de mais compaixão. Boas Festas!