INSPIRAÇÕES DO POETA

28 de jan. de 2011

Na Fibra Agia




Meu corpo sustenta a pedra, que desconhece seu destino, a carga dura de mil anos.
Como pode suportar meu peso, a caminho da morte, essa civilização sólida?
Eu, dor pungente que sou sob seus pés, sem antibióticos infecto a memória original enquanto agonizo, meu fóssil causa-lhe vaga impressão.
Nós que nunca nos olhamos, frente a frente, pois jamais merecemos essa franqueza, o tempo, não demora teremos na boca o gosto apodrecido do limo.
E os homens usarão aspiradores barulhentos, nos músculos exauridos, nas articulações desligadas do mundo e por todos os nossos restos, sem decifrar pegadas.
Quem há de evocar meus dias anônimos arrastando o minério sobre os ombros, se escavações ou pesquisas, não descobrem almas?
A dor costura a mortalha, lentamente, com agulhas rombudas, na carne.
É que o espírito é um demônio em flagelo e de seus gritos surgem mazelas que tatuam os corpos e mais, a saliva ácida é a moldura carcerária.
A pedra, em toda perfeição de seu excesso, me tem por fardo e eu temo aliviar dores, nossas fibras, com pílulas soníferas, antes melhor seria cometer um crime.
A pedra, eu digo: Sou pedra e medo! Portanto, se num momento cotidiano qualquer eu desistir, não me ouça. Saiba que apenas adormeci.
Pesa-me o calhau que me carrega nos dias, embora, nossas faces metamórficas sejam gêmeas.

21 comentários:

Costea disse...

Cicatrizar ferimentos externos, mas o que as feridas internas?
Um belo fim de semana Ira!

Antonio José Rodrigues disse...

Na fibra poética, Ira, protesto e dor. Beijos de conforto e paz

Átila Goyaz disse...

Este ficou agonizante... a dor pede pela cicatriz...
abraços!

carmen silvia presotto disse...

"A dor costura a mortalha, lentamente, com agulhas rombudas, na carne."

Ira a dor que deveras sente é humana, é universal e os versos acima são o enquadramento de meus sentimentos aos descasos, bárbaries, maus tratos...

Um beijo carinhoso e te ler me revira, me torna mais humana.

Gracias.

Carmen.

Úrsula Avner disse...

Queida amiga,

saudades de ti... Sua poesia forte, incisiva e de cunho existencialista aliada á imagem também forte do quadro de Frida Khalo, ocupou espaço suficiente para fazer os mais astutos pensarem e pensarem e beberem do seu talento e sensibilidade... Bj com carinho.

Anônimo disse...

eu não durmo, estou aqui de olho em você.

Rosemildo Sales Furtado disse...

Olá Ira! Belo poema, com ênfase para o trecho abaixo:

Nós que nunca nos olhamos, frente a frente, pois jamais merecemos essa franqueza, o tempo, não demora teremos na boca o gosto apodrecido do limo.

Beijos e ótimo final de semana pra ti.

Furtado.

Unknown disse...

letras fortes un sentir que se escuita se sente se lee muito profundo en ese dor que en letras deixa sentir.. belo poema amiga querida...

saludos
otimo final de semana
abracos amiga Ira

Unknown disse...

a imagem de frida tem tudo a ver,


beijo

Joelma B. disse...

Ira sempre brilhante...

A dor resiste na esperança de ser eternizada em poesia... é quando ela se purifica...

Beijinho de Luz e brilhante fim de semana a ti...

Anônimo disse...

Um poema muito intenso, muito bonito, tranfiguração, vida e morte. Eu sinceramente adorei, tenho um poema em meu blogger e também no RL, chamado: "Sobre areias", aborda também este tema, claro numa outra linguagem. Gostaria muito que se pudesse, o lesse. Abraços, Helio Rocca.

Carolina disse...

É uma composição maravilhosa e sincera, você é forte e corajoso!
Feliz fim de semana, minha querida Ira.

Chris B. disse...

Adoro o jeito rebuscado com que escreves... poucos os que o fazem assim!

Existem dois dias na vida que ão devemos esquecer: o dia em que nascemos e o dia em que aprendemos a dançar ;)

Tenho certeza que deve ser bem especial quando danças... tens um jeito que transmite leveza minha amiga querida.

Um beijo cheio de carinho e agradecimento por teus mimos.

Phivos Nicolaides disse...

Simplesmente, maravilhoso! Uma linda semana, mulher maravilhosa. Felipe

Iram Matias disse...

Não é fácil descrever a dor. Ela tem cara de morte. Mas essa descrita pela a Ira, tem cara de não ser uma dor morte e sim, de chance.
Impressionante a sua inspiração, amiga.
Que Deus te conserve assim e cada vez melhor
Bom fim de semana!

Joop Zand disse...

Very nice work....my compliments to you Ira.

greetings, Joop

Fred Caju disse...

Frida Khalo não poderia ter "caído" em melhor texto! Abraços!

Antonio José Rodrigues disse...

A Camaleoa Face Poética ficou encantadora. De cima para baixo, de olhos fechados, marcaria um xis de sim em qualquer uma (rsrs). Beijos e um fim de semana sem camuflagem e de muita alegria.

EXPEDITO GONÇALVES DIAS disse...

Provoca cortes profundos seus versos, ácidos, rascantes e belos...
Estou deixando uma pequena homenagem no meu espaço. Estou trminando de postar. Espero que goste. Grande Abraço...

Jorge Pimenta disse...

começo pela imagem da imortal frida, querida amiga. o exoesqueleto toscamente arrebanhado por ferros, pregos e pedras mantendo uma verticalidade bamba que ousa clamar pela eternidade. antecipo tons, sons e contornos verbais da tua alma de mil faces que cabem, em absoluto, em todas as linhas do meu rosto e da minha poesia. e eis que pousa sobre a pele o limo, o anonimato, as mazelas, o corpo anestesiado, os antibióticos sem prescrição identitária, as mãos cirúrgicas que rasgam as luvas no éter do corpo e, por fim, uma só certeza: como a pedra existiu antes de ti e de mim, assim sobreviverá ao nosso sono de morfeu. mesmo sabendo que as nossas faces metamórficas são [foram] gêmeas.
beijos com arrepios nos dedos, doce ira!

PAULA TORRES disse...

APRENDI A GOSTAR DE POESIAS COM UMA PESSOA QUE ME FOI MUITO IMPORTANTE.
EU ADORMECI MAS SOBREVIVI.
PARABÉNS.