INSPIRAÇÕES DO POETA

15 de jan. de 2011

Os Olhos Chovem




Os olhos desmoronam e descem enxurrada abaixo esbarrando em cadáveres de outros olhos, que chovem tormentos, na invalidez dos dias.
No cantares dos gritos, ecos são inúteis como navios afundados, o céu lança-se em gravidade.
Há lama e escombros encobrindo a fé, onde antes suspiravam retinas de mães e das meninas dos olhos dos meninos órfãos, nada mais resta que um pavor insano.
O inferno sai das profundezas ficando os pés na cidade, antes viva, com sua casaca de augúrios e caldeirões ferventes, os dias tornam-se noites eternas de funerais.
Ah, Deus dos homens! A terra jorra vômito aos inocentes e eu impotente, mas juro, não como essa fatalidade. Não aceito!
Não aceito a vida vencida, por uma legião de cretinos gananciosos, que dormem sobre os pequenos desgraçados.
Não aceito a mínima gota de comiseração fraudulenta das mãos de piratas, pois lavadas sempre são, quando não há mais o que saquear, nem sonhos.
Os olhos descem, desesperadamente, na correnteza das águas, na tentativa de não crer na força abandonada, mas eles assistem a odiosa venda, mais de quinhentas carcaças nos bolsos dos fariseus falastrões. O ouro ensangüentado!
Não aceito! Esse destino de porrada em porrada, como se Deus colecionasse almas simples, nos subterrâneos.
Os olhos velhos de sentirem, sucessivamente, fragilidade e abandono, se rendem ao luto, mas estendem olhar de socorro a dor comungada, que agora queima sobre restos de vidas.

29 comentários:

Antonio José Rodrigues disse...

As tragédias, Ira, se repetindo e os políticos deitados eternamente em berços explêndidos. Só muda o número de vítimas... Beijos solidários

Chris B. disse...

Tudo chove minha amiga, tudo dói e o desespero toma conta de forma sem controle!

Sinto muito.

Rob Novak disse...

É triste ver como a dor e o desalento são cíclicos nesse país. Sabe-se que há temporada para chuvas, para seca, para o frio, para o calor, para a demagogia e para o descaso. Na verdade, os dois últimos acontecem a todo o tempo...

Bjo

Marcelo R. Rezende disse...

É tudo muito triste.
É foda. (não achei outra palavra).

Beijo.

Unknown disse...

a cada dia amplio meu desentendimento sobre a vida, as tragédia então


beijo

José Carlos Brandão disse...

O sofrimento aproxima o homem de Deus. Não tem outro sentido, mesmo, o sofrimento do que manifestar a glória de Deus. Mas como dói, Senhor. Precisava doer tanto? Os meus olhos são pequenos para ver, eu sou pequeno para compreender. Piedade, Senhor.
Beijo.

Unknown disse...

e a dor crece .. o sufremento aumenta .. como parar iso... como.. Deus toca o coracao mais ninguem atemde.. na natureza cobra o que o homen causa ate ai a dor se sente...

saludos
abracos
otima semana minha querida amiga Ira.

Franck disse...

Vc sintetizou neste poema-texto... Só fico me perguntando até qdo esses olhos vão continuar olhando esses outros olhos nas mazelas que acontecem todos os anos? Por mais que sejam causam naturais, li em algum lugar que desde sempre acontece isso no RJ...
Bjs*

Ira Buscacio disse...

Antonio. É aviltante esse descaso, de sempre. bj

Ira Buscacio disse...

Pat, Rob e Marcelito, essa dor é implacável e sabemos que tudo poderia ser minimizado, se houvesse respeito ao humano. bjs

Ira Buscacio disse...

Meu desentendimento Assis, nem mais se entende. Não aceito, não aceito!
Bjs

Ira Buscacio disse...

Brandão, querido, essa tragédia pouco tem de Deus! A terra esta antes de nós e conhecemos suas reações. Isso chama-se descaso e ganância, dos homens. Bj

Ira Buscacio disse...

Del Cielo e Franck, meus amigos queridos, desde que me entendo por gente, a região serrana nessa época torna-se uma bomba, todos estamos cansados de saber, mas as verbas, ah, as verbas, essas são desviadas pelas mãos dos homens, como os rios. Aí Deus leva o pato, normal, ele não ta aqui pra se defender, fácil!
Bjsssss

Edson Gomes disse...

Eu só digo uma coisa... Meu coração e minha alma estão de luto.

Fred Caju disse...

Apesar do sol em Recife, há uma tempestade nos olhos de muitos por aqui.

Ira Buscacio disse...

Meu bom Caju de Fred, poeta desses nordestes que amo, onde mts, já nascem com a tempestade nos olhos. Aqui, td é tristeza.
Bjsss

Ira Buscacio disse...

Edson, meu escritor querido, a comoção é geral. Estamos todos em luto.
Bjssssss

Juliana Carla disse...

Ira,

Fiquei em silêncio... #Tenso

Mas, grito registrado. Com um pouquinho de nós, seja na caridade de palavras, no voluntariado, doando dinheiro, materiais, enfim, somos irmãos.

Paz para aquela Terra. Que a natureza e a violência “descansem”.

Bjuxxx e xerooo querida amiga.

Tuca Zamagna disse...

Belíssomo poema, Ira!

Dos nove tios que tive, só me resta uma viva. Mas disso não tenho certeza absoluta, porque desde que a tragédia começou não consegui contato telefônico com ela, que mora em Teresópolis.

Apesar da angústia, não responsabilizo só os políticos pela tragédia. Já ouvi em várias ocasiões alguns deles clamando por medidas para evitar esse tipo de tragédia mais do que anunciada. E nunca vi, por exemplo, os grandes jornais publicarem longas matérias denunciando a falta de medidas efetivas contra a repetição dessas tragédias. A não ser, é claro, depois que elas acontecem. E assim mesmo, eles sempre arrumam um jeitinho de poupar as construtoras inescrupulosas que constróem em áreas de risco.

Acho, na verdade, que a responsabilidade é de todos nós. Inocentes nessa histórias, só os que perderam seus deveres de cidadãos junto com a própria vida.

Beijos

Ira Buscacio disse...

Ju, minha linda,
É como vc disse: Somos irmãos!
A dor tb é nossa, bjs

Ira Buscacio disse...

Sabe Tuca, eu to mt arrasada com mais essa tragédia. É claro que a responsabilidade é de todos e vc lembrou bem das construtoras, da mídia omissa (e seus interesses), mas estou, realmente, mt cansada dessa politicagem.
Tomaria o espaço todo comentando, mas pra sintetizar, o que temos é isso; verbas não repassadas; construções inapropriadas; um povo que deveria ter mais educação, mais consciência dos seus direitos e deveres e não sei quando td isso vai mudar. Eu juro que tento acreditar na vida!
Bjs, meu querido especial

Fernando Santos (Chana) disse...

Grande tragédia....
Um abraço solidário....
Cumprimentos

2edoissao5 disse...

é tudo tão sofrido, tão repetido e tão sem remédio...

povo marcado!

Rosemildo Sales Furtado disse...

Olá Ira! Passando para agradecer pela honrosa visita e o gentil comentário deixado com tão belas palavras. Estou retornando de um merecido descanso, e gostaria de continuar contando com a sua valiosa atenção e colaboração, para que possamos juntos caminhar e produzir durante todo o ano que se inicia. Muito obrigado de coração pela sua amizade.

É a mãe natureza que chora e reclama dos maus tratos que lhes são impostos pelo homem.

Beijos, uma ótima semana pra ti e para os teus, e que DEUS nos abençoe.

Furtado.

Jorge Pimenta disse...

querida ira-poeta,
os ecos são as bocas que interromperam a queda sob lava de terra incandescente. e os gritos aprenderam a matar e a morrer despedindo os pólos com que se constroem berço e esquife; o que os enche já só é o espectro de uma saudade sem nome...
um abraço solidário, amiga!

AC disse...

Ira,
Os vampiros já não se circunscrevem à sombra, a desfaçatez virou lei...

Uma braço sentido

Lua Nova disse...

As tragédias, a morte dos desvalidos, as enchentes e a seca são usadas nas campanhas políticas, nas eleições, e transformam esse povo brasileiro em massa de manobra. Não, não é a natureza em fúria o problema e todos nós sabemos disso. É a fúria da cobiça, da ganância desmesurada, dos desmandos da classe governante que tem o poder de mudar tudo isso, mas que só usa suas prerrogativas em causa própria. Há coisas que surpreendem não por serem exóticas, mas por continuarem "ocultas" apesar de serem óbvias (como diz Caetano). Essas tragédias são desastres anunciados, conhecidos e esperados assim como a incompetência, a corrupção, a locupletação (enriquecimento) da classe política
nesse nosso Brasil.
Seu poema protesto-denúncia é perfeito. Meu coração está de luto por esses brasileiros assassinados pela irresponsabilidade.
Beijokas, minha mais que querida amiga.

Iram Matias disse...

Ira, querida,
ME SINTO UM GRÃO DE AREIA DIANTE DESSA RAGÉDIA.

POR AQUI ESTAMOS AJUDANDO COMO PODEMOS.

beijos

Anônimo disse...

apenas subscrevo.