INSPIRAÇÕES DO POETA
11 de abr. de 2011
A Lágrima que Pariu Riso
Abortei todos os planos de infelicidade, desses de autopunição que não curam merda nenhuma de culpa e só impedem a gente de acreditar, não há razão de colecionar dores e entupir as paredes com infernos moldurados, pois todo o maior acervo não te poupa do estrangulamento da tristeza e nem traveste o diabo em santo.
Essa dor tem que ser absorvida com a porosidade da pele, depois misturada ao sangue, a cada célula viva e que o drama seja instalado onde o espírito respira. Assim, só assim ele há de vomitar o cancro e libertar a cabeça, que por sua vez há de salvar o corpo das mazelas e dos medos.
Havia em mim um altar crescido de todas as culpas do mundo. Culpa por amar, por não amar. Culpa por ser humana, por ser pedra. Culpa pelas escolhas certas e erradas. Culpa pela humanidade ora entediada, ora estúpida.
Havia esse altar de flores esdrúxulas. Um altar repleto de breu e deuses queixosos, com castigos desonestos, que esmagavam minhas asas como os homens esmagam baratas e toda massa abjeta fica exposta.
Minhas assombrações, com esporas débeis, galopavam em meu dorso impingindo-me antolhos, apenas enxergava as neuroses e os traumas, mesmo intuindo as laterais extravagantes de esperanças que os olhos ocupados não viam.
Estava embrutecendo e vivendo com retalhos, insuportáveis, da falsa piedade dos homens, de todos que apontaram o dedo em meu nariz – Louca!
Tinha que ocupar o meu lugar, aquele que fora riscado no azul, ainda que a nudez fosse minha única vestimenta e jamais, jamais alcançaria minha estrela caminhando morta.
A morte é necessária, mas sem pés, quando não há como nos seguir e morre estática, mármore. Cobre a alma com o tempo sujo e velho até queimar toda desordem psicológica e mundana e das cinzas amontoadas uma nova origem brota, ávida e forte, em beleza de águia que voa o primeiro vento e nunca mais para.
Pensava constantemente nos poetas que não suportaram a realidade, eu os amava e achava lindo morrer de poesia, talvez seus poemas quisessem se desvencilhar das mãos que os faziam melancólicos, mas não menos bonitos e se suicidavam como as águas que procuram as quedas e eu, eu queria que a poesia vivesse e tomasse conta dos meus olhos, da minha respiração.
Queria que a infelicidade fosse um pó que qualquer brisa menor soprasse longe, mas entendi em cada verter de lágrima, como entende a borboleta, que somente por ela poderia voar sem memória.
Senti com a loucura que umedece meus lábios os dias de cárcere, o tempo casulo que constrói a sabedoria e decidi que nunca é tarde pra pousar no riso e ri, sem culpa, acreditada.
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21 comentários:
voar sem memória como borboleta, destino atávico
beijo
Mergulhar, sentir, absorver, emergir, sorrir...
Ira,
Viajar nas suas palavras é sempre compensador.
Beijo :)
"Pensava constantemente nos poetas que não suportaram a realidade, eu os amava e achava lindo morrer de poesia, talvez seus poemas quisessem se desvencilhar das mãos que os faziam melancólicos, mas não menos bonitos e se suicidavam como as águas que procuram as quedas e eu, eu queria que a poesia vivesse e tomasse conta dos meus olhos, da minha respiração."
sempre há alguém a viver no coração do poema. talvez, no dia em que se extinguirem as culpas ou a sensação de erro o seu nome seja anunciado...
e o poema morra de vez.
e os poetas deixem de mentir ao sonho.
e os homens sejam poetas e as mulheres... apenas mulheres.
beijinho, ira querida. um brinde à não-culpa!
Como siempre un placer haberme pasado de nuevo por tu casa...
Saludos!
"Estava embrutecendo e vivendo com retalhos, insuportáveis, da falsa piedade dos homens, de todos que apontaram o dedo em meu nariz – Louca!"
Forte este dizer, fortes momentos de te ler e me encontrar... quanto sofrimento em busca de nós mesmo, não é mesmo? Por isso, Ira venho sempre te ler, para seguir voando, acreditada!!
Um beijo grande, carinho sempre.
Carmen.
OIE, passando pra uma visitinha, vim aqui é sempre um prazer. seu blog é tudo de bom.bjs
O sentimento de culpa, quando excessivo, aniquila a pessoa.
Gostei do texto, é impressionante a maneira como abordas e desenvolves o tema.
Beijos, querida amiga.
Excelente texto!
Parabéns. Envolveu-me completamente.
Beijinho
Às vezes temos que desfazer do incômodo para prosseguir, temos que nos permitir caminhar para voltar ao eixo. Tudo é mutável quando se deseja. Belo texto!
Bjs. Jasanf.
"havia em mim um altar crescido de todas as culpas do mundo"
a imagem me encanta e tonteia. se descubro um assim em mim, acho que nele eu me veria, dividido entre ser cruz, crucificado e batedor de cravos.
beijo
"Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado."
Albert Camus
"Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela."
Paulo Coelho
"Há duas formas para viver a sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre."
Fernando Pessoa
Beijos, poetisa
Lindo por deveras. Filosófico, autocrítico. Um texto perfeito onde puseste exuberância em tua escrita. Trazendo o real para a impossibilidade e vice-versa. Estou pasmo. P A R A B É N S amiga!
Texto sensível, atencioso, inteligente... e eu também amo poesia.
Beijos, querida Ira.
Texto tocante minha amiga... Gosto muito das suas construções literárias... Bj com carinho.
Eu fiz todos os abortos possiveis de culpas em mim, Ira.
Abortei, defumei a alma, fiz um feng-shui, e quero estar livre de agora em diante para o vôo.
- Sem culpas -
Eu sinceramente fico sem fôlego quando te leio.
Ira, eu sou sua fã maior.
Vou ser sempre!
PS: Amada, passei o dia enfiada dentro de um tubo (Ressonância), pra ver meus pinos na lombar, e agora minhas protusões na cervical, pra ver o raio dessas dores.
Agora deu pra inchar meu pé e doer muitooo, e doer meu braço.
To preocupada, e marquei meu Neuro que me operou dia 20 em SP.
Vamos ver. AFFFFFF
Adoro você!
Amada,
Vamos torcer por nós.
Com dor ou sem, tamo juntas, sempre.
Fica BEM, por nós viu.
Te adoro um tanto!!
Minha querida
Eu não encontro palavras...a tua escrita deixa-me em transe, completamente entregue ás tuas palavras...à profundidade dos teus textos...às entrelinhas...enfim adoro ler-te.
Beijinho com carinho e profunda admiração pela mulher forte que leio nos paragrafos.
Sonhadora
chego a acreditar no lance do pecado original porque sempre temos tanta culpa...
Justo agora que tô amadurecendo... me reconhecendo vc me dá uma porrada dessas.
Te amo, sem culpa ou dor por ainda não te ter sentido, cheirado, mas amo o amor puro de amigo admirador!
Obrigado, seguindo sempre tuas palavras..
Beijos.
Aqui me parece tudo fluir de imediato e completo , essa correnteza de palavras distribuiu em sua postura um lado tenso e contido, mas sei onde estou, no campo de Ira, vejo colinas nutridoras que não de esgotam.
bjos
Loiruda...
Medos,receios,culpas,dores...sao fantasmas que vivem nos rondando..temos o antídoto dentro de nós, basta que tenhamos coragem suficiente para acha-lo e usa-lo...e temos !
Amo.
Bjs meus.
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