Canso na noite postiça as pálpebras
Retiro os cílios, negros, postiços
E os devolvo ao espelho invencível.
Há olhos excitados!
Não, não os meus!
Onde estão meus olhos?
Os meus jamais riem de tão feios, sujos, estrábicos,
postiços.
São dela, estes olhos pratas que assustam breu,
Da mulher que ama sem luto.
Ela é bonita como morrer dormindo
E eu vivo acordada contando estrelas mortas que perdi para o
mar,
Este ser inescrito que não conhece o tédio.
Tenho 51 anos e nem sei se isso é seguro,
Mas ela sabe luz, mas ela é túmulo.
Não cantará aos meus ouvidos a melodia das montanhas.
É evidente que a mudança anatômica me convenceu a andar,
Sempre e tanto,
Talvez seja por isso,
Pela civilização da carne que teima fazer fogo friccionando
pedras,
Também pela curiosidade da alma que desafia ponteiros de
relógios velozes,
Sem cochilar dedos interrogativos,
Além de qualquer filosofia ou arte
E construo proprietária esta casa no tempo,
Onde sento a beira do inquérito tecendo notas graves,
Com dezessete anos.
Minha estrutura é cretina, de alfabetos dementes,
Enquanto ela tem lábios de beijo,
A prova de qualquer inferno.
Ela é o inferno!
Eu sou uma presença fingida que existe no papel,
Na boca perdida de um poema miserável,
Quando o poeta sem roupa deslumbra a superfície do céu.
Ela é visível, eu, um segundo obscuro de dor penetrável.
Ela ama aquele mais impossível, o que tenta falar de sede e
é rio,
O que é amigo e traça luxúrias nos cabelos lisos.
Eu atraso febre que tiraniza pele,
Ela provoca calor urgente nas sombras.
Sou sigilo, no íntimo, quase descoberto
E tarde demais pra ser real.
Ela é seu próprio rumo,
Quando escapa da moldura,
Bem diante do meu nariz
22 comentários:
Nossa, muto bom!
"Eu atraso febre que tiraniza pele"
Linda imagem!
Fiquei ali presa no meio desse confronto de imagens, Ira.Como sempre, maravilhoso te ler.
Beijinhos.
Uma literal prosa poética sobre a vida, a existência, seus meandros, suas particularidades. Visto sob um prisma mui talento, o prisma de Ira Buscacio. Parabéns poetisa!
Minha querida
Não tenho palavras...ficaram presas no grito.
Deixo um poema:
Sou a morte...a vida...o abismo...envolvendo-me num abraço
Anoiteço e amanheço...sou o tempo e a pausa...o sim e o não
Sou filha da tempestade...sou o medo...o segredo...o cansaço
Sou vento e chuva...gotas de ternura...claridade e escuridão
E...a minha admiração IMENSA.
Beijinho com carinho
Sonhadora
Você é estupenda sabia ? rs adoro!
E tarde demais pra ser real.
Ela é seu próprio rumo,
Quando escapa da moldura,
Bem diante do meu nariz
o poeta sem roupa é uma alegoria de rei, despem-se as palavras
beijo
Isso é o que eu chamo uma poeta cheia de vigor!
Um poema lindamente forte, como você costuma deixar aqui.
Beijo beijo.
Adorei o seu texto. Fiquei envaidecido por ter comentado, saiba, que enobreceste o meu blogue com o seu comentário. Nunca mais, ele será o mesmo.
Felicidades, pra voce, Sempre.
Ía esquecendo, se possivel volte lá outras tantas vezes....
é sempre muito, muito bom voltar aqui...
bjs.
maurizio
Estava pensando agora e, além de poesia, tudo que você escreve pode ser cena ou pintura. Gosto das mesclas, Ira.
"Minha estrutura é cretina, de alfabetos dementes"
Idem.
Oi, Ira! To tentando voltar a blogosfera. Voltarei mais por aqui para me atualizar das suas sempre inspiradas publicações.
Bjo
Ira, linda aquariana!
Com dezessete anos ou com cinquenta e um, toda mulher às vezes se faz lábios pintados vermelho carmim; outras tantas, apenas boca.
Lindo poema para todas as idades!
Beijos de admiração!
Ola Nossa! =D eu queria voce viera a minha postagem, felizmente voce fez! Sou feliz!
Sua poesia, bonita e elogiosa.
Beijo grande.
"Bonita como morrer dormindo" Suplanta todas as figuras de linguagem, salta
aos olhos. transcende o poema . Intenso, imenso... De se ler contorcendo os cílios. Bjo!
ela e ela, em diálogo de espelhos, paraísos e infernos, porque até a face tem duas metades. onde começa uma e termina a outra? e qual é qual? no cabo elétrico que suspende a dúvida, apenas uma certeza: ambas são definitivas do lado de fora do papel - na vida e na morte. eis o poeta e o quase-poeta; eis a poesia e o silêncio.
lindo como só tu sabes, ira! arrasto comigo "E eu vivo acordada contando estrelas mortas"
beijo em estrelas-vivas!
Adoro quando você é intensa, Iracema.
Abraços,
Caju.
.
Ira, pronto, já postei no
Blog do Bar do Escritor.
Caso queira me dar o prazer do
seu comentário, por favor, es-
creva no rodapé do meu texto e
esqueça os outros, já que não
me pertencem.
http://bardoescritor.blogspot.com
Um beijo de agradecimento e
amizade.
silvioafonso
.
Ah!!! As febres que sempre tiranizam a nossa pele.
Passando e deixando um grande abraço e meu carinho.
Lindo domingo, minha querida!!!
Boa tarde, Ira. Você tem a capacidade de me prender nos teus poemas, fazendo eu enxergar as imagens, vislumbrar o que te irrita, e entender as tuas dúvidas.
Como sempre, forte demais!
Um beijo na alma, e fique com Deus!
Bonito!!!!
Besos, desde España, Marcela♥
Um espanto dos pés a cabeça!
Outro beijo*
e o espelho se esquece do rosto
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