Tivesse eu, cor inescrevível dos trinta anos,
Drama gordo do desejo perseguido,
Palavras impronunciáveis que convencem corpos,
Que ainda assim, nada faria sentido
Sem respirar-te fundo,
Como se respira o último fio de ar,
Antes de apagar os olhos.
Tivesse eu, dom de criança azul,
Braços de abraçar silêncios fartos,
Pensamentos riscados de giz,
Que ainda assim, nada faria sentido
Sem saber-te pequenino perseguindo milagres,
Perguntas sem respostas,
Sem culpa ou revolta
Tinjo de rosa as maçãs da face
E invento um dia, dia de ser tua.
Dia tão completamente eterno,
Quanto o momento em que li Éluard
E pensei ver-te manso,
leve, lírico,
Primavera a correr no jardim estranho do tempo.
Caule aprisionado na flor
Por vontade e seda fina.
Existências cobertas de milagres,
Peles e poema.
Um dia comum de amor,
De incalculável alegria,
Como são todos os dias provisórios.
10 comentários:
Ira,
Há momentos no texto, em que li, reli e li de novo, só para depois, prosseguir. E foram vários esses momentos... e os olhos se molham. Coisa mais linda! De uma ternura ímpar, desejo calado de algo precioso, mesmo que seja provisório.
Muitos beijos, minha admiração sempre.
Suzana Guimarães - Lily
Éluard elude, ilude, alude
beijo
As vezes penso, se não tivesse voce aqui dentro, me calando com palavras que não me pertencem mas me contornam com cores que as vezes sangram, outras reluzem, nada faria sentido.
Amo tu,
bj meu.
"braços de abraçar silêncios fartos"
Abraço-te!!!
Beijo e carinho!
Como todos os dia sem que há companhia. Em que se faz o que se gosta e ama. Como a andar na praia, escrever e tomar uma gelada. Vejo traços e amo suas pinturas, Ira.
Beijo!
Ira, linda aquariana!
Que seja provisório enquanto dure...
Beijos!
não posso parar de ler, os dias provisórios...
cada vez mais perdemos tempos e perdemos aquilo que somos e esperamos que um dia tudo será diferente, será definitivo
este teu texto é dedo na ferida, ainda bem
beijinho sua poeta do caraças...
Vivo de dias assim.
Beijos,
Anna Amorim
Bélissimo poema Ira. O tempo na verdade instiga à humanidade o temor da imensidão...
nenhuma tatuagem é definitiva; por que o seria a pele?
admirável tu e a tua escrita - sempre.
beijos!
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