INSPIRAÇÕES DO POETA

5 de jul. de 2012

Prenúncio do Sono





Filhas, não lamentem!
Mas tudo que sobrou desta mãe foi o sono,
Aquele que separa os pensamentos das mãos.
Uma poeira antiga que se sabe lá,
Já não mais acumulará dores.
Um corpo medonho, pesado e frio,
Que será empurrado à boca do penhasco,
Como sempre foi e tanto,
Piano faltando cordas, sem jazz,
Asas decepadas no arame farpado,
Em cada tentativa de dar forma a liberdade.

Não haverá mais jardim no braço,
Que espantou tanta cretinice humana,
As orquídeas silenciarão suas orquestras.
Pergunto aqui, já sem pulso e resposta:
Quem é esta menina que de cruel escreveu sua face no papel,
Que de inocente conservou a caixa de mel no peito,
Agora gengiva sem sangue?

Escutem! Escutem as explosões das perguntas,
Simplesmente, pois tudo nasce interrogativo.
Não se afastem desta ânsia que apavora os olhos,
Mas os permitem brilhar.
Olhem! Olhem com admiração toda a humanidade,
Ainda que arrastem ópios e crimes,
Nada há de mais incompreensível do que o homem.
- O luxo da vida esta em contemplá-la, mais que vivê-la -
Não lhes deixo vestidos dourados, nem venenos,
Porém ficarão os desvelos de amoramento até o fim da memória,
Minha embriagues derramada em folhas feias
E esta estabanada incompetência de ser qualquer coisa maior que pó.

13 comentários:

Marco disse...

A incongruência da vida resume-se apenas a corrosiva indagação: Quem somos? Lindíssimos e profundamente reflexivos os seus versos poetisa Ira. Aplausos!!!

Carol disse...

Compreender não adiante... viver sim.
beijos e um ótimo final de semana!

Dilmar Gomes disse...

Grande Ira, quando fico alguns dias ser ler teus poemas, sinto saudade deles.
Um abraço. Tenhas uma linda noite.

assis freitas disse...

sucumbir ao sono, a intempérie do tempo



beijo

Jorge Pimenta disse...

quanto vale o pó?... nenhuma resposta ousaria fazer-se definitiva diante dos verdadeiros mistérios que dispensam a linguagem verbal para se nos imporem como coito sem finalização.

beijinho, querida amiga!

Sandra Subtil disse...

És grande , Ira. E a magnitude das tuas palavras é muito mais definitiva do que o pó.
Beijo grande

Cris de Souza disse...

Suspeito que tudo que nasce interrogativo é pra viver sem resposta.

Beijo, poetaça!

Anônimo disse...

Concordo com a Cris, Ira.

"Nada há de mais incompreensível do que o homem" e que nunca tentemos entender seus porquês.Foquei-me no seu segundo verso. Minha mãe: uma esfinge! Beijo, doce Ira!

Carolina disse...

Nadie comprende a o homem... mais... apesar de ser sem sentido e incompreensível, a vida e cheia de poesia.
Um beijo e lindo fim de semana.

Anônimo disse...

Sempre busco um verso
que marque minha alma
profundamente
quando leio um poema
que é um poema
não faço poemas tão densos
tensos sensuais
não por questões morais
mas meu ranço medieval
mas adoro poemas assim
o verso que me marcou
o silencio das orquídeas
me deu vontade de roubar e fazer um poema
olha poeta tem outros versos
mui belos
ou viscerais
mas este tocou meu ser
falei para minha máquina de escrever
e ela ficou alucinada
uma das razões
é que as orquídeas
vivem conversando comigo
poema mui belo

Luiz Alfredo - poeta

Machado de Carlos disse...

Uma lamentação surreal, porém incrível, marcando o fim de uma etapa. Experiência vivida e com final estridente!

Pablo Treuffar disse...

no fim o nada

LauraAlberto disse...

o tempo que passa resta o pó...

e no final apenas isso, pó

beijo